Henrique Correia
A culpa é da guerra
É difícil encontrar um produto que não tenha aumentado, mesmo com a consciência geral dos novos problemas das famílias e que a pandemia formou uma classe intermédia, é aquela que nem é baixa nem é média.

Ainda mal conseguimos sair da pandemia, com mortos que não pararam de aumentar, com sequelas físicas e psíquicas dos que não morreram mas viram a morte pela frente, dos que, de repente, ficaram com a vida virada do avesso, pelo desemprego, pela perda de rendimento ou mesmo com o pequeno empresário que fechou a porta e ainda anda a fazer contas, tudo isso aconteceu e já estamos com uma guerra ali mesmo, que não chegou de míssil mas chegou de outra forma. É como se a Covid-19 fosse lá para trás e não tivessemos aprendido nada com os confinamentos, com os negócios fechados, com a falta de dinheiro para gastar nesses negócios quando estivessem abertos. Isto está a saque e sem fiscalização que se veja ou que possa atuar com estas leis.
A culpa é da guerra. Tudo, agora, é culpa da guerra. O café aumentou 20 cêntimos, de um dia para outro, uns aumentaram 10 para não dar nas vistas, as garrafas de água compradas noutras "guerras" também aumentam por arrasto. E já agora, que estamos com a "mão na massa", vamos aumentar 2 euros num prato, 3 ou 4 noutro, ninguém vai dar por isso porque realmente a gasolina aumentou e vem tudo da Ucrânia e da Rússia. É difícil encontrar um produto que não tenha aumentado, mesmo com a consciência geral dos novos problemas das famílias e que a pandemia formou uma classe intermédia, é aquela que nem é baixa nem é média, que ainda não recuperou das consequências e já leva pela medida grande. Não sendo baixa, que tem apoios, nem sendo alta, que não faz contas pequenas, a classe média/intermédia ficou espremida na sociedade, porque paga tudo e tudo está mais caro.
Mas esta culpa da guerra não se fica por aqui, por baixo digamos assim, por aquilo que é o dia a dia do povo. Por causa da guerra, vale quase tudo, já valia pelos trabalhos a mais ou pelo preço base a menos num concurso, como aconteceu com as escavações do novo hospital, que depois fotam separadas à moda dos pretendentes. Desta vez foi com a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) do Funchal, cujo concurso, com base de 13 milhões, ficou deserto. Quem levantou o caderno de encargos ficou na "retranca", como se diz popularmente, num meio pequeno e com poucas alternativas, é fácil "fazer gazeta", como se fazia antigamente quando não queríamos ir às aulas.
A justificação é que os materiais estão mais caros e a culpa é da guerra, o que não significa a inexistência de consequências do conflito e um aumento global de custos. Mas já parece aquele café que aumentou 20 cêntimos, não foi 5 nem 10, foi logo 20. Aqui também não foram 2 nem 3 milhões, são logo 7, mais de metade do valor base inicial. Uma obra atrasada e bem paga.
Como diz o povo, quem vai à guerra dá e leva. Só que há uns que levam sempre...