"Seremos realmente livres quando aqueles que têm a tarefa de nos informar de forma independente e equidistante são confrontados com a angustiante opção de se subjugarem aos interesses particulares e individuais dos seus patrões ou perderem os seus empregos?"
Há quem goste e há quem não goste do estilo do deputado social democrata Carlos Rodrigues. Incomoda, atrapalha, embaraça, muito mais o próprio PSD do que a oposição que tem uma opinião do parlamentar que não é propriamente elogiosa, antes pelo contrário. Mas o deputado sabe disso, sabe que no seu partido pode haver quem se mexa nas cadeiras com algumas das suas posições, que lhe poderão custar, por exemplo, não ir incluído na lista da coligação para as próximas regionais.
Seja como for, sem julgamentos e permitindo liberdade, neste 25 de abril, para opinar livremente sobre o que disse Carlos Rodrigues, ficam aqui algumas questões que lançou no seu discurso, qual "barrete" que encaixa em algumas "cabeças", leia-se governações, que podem ser lá, mas em alguns aspetos cá, que podem ser cá e em alguns aspetos lá. Que apanham a Igreja como apanham jornais e que tiram o cravo da lapela como voltam a pôr, não no seu caso, que não tinha, mas de outros, de acordo com os defeitos, os efeitos e os "feitios" que o 25 de abril de 74 trouxe. Como disse, no discurso, "se esta é a verdadeira liberdade, se é para esta liberdade que caminhamos, então, o 25 de abril e outras revoluções semelhantes falharam estrondosamente".
Entre as várias questões e observações, escolhemos estas pela perspicácia tendo em vista uma reflexão. Que cabe a cada cabeça livremente pensadora. Partidos à parte e conscientes que a visão é necessariamente de um deputado da bancada do PSD-Madeura:
Seremos realmente livres quando somos enquadrados por princípios cada vez mais difusos e contraditórios, impostos por minorias nómicas ruidosas, violentas e radicais?
Seremos realmente livres quando dependemos de um sistema judicial corporativo, auto-regulado, ineficaz, lento, confuso, subjectivo e demasiadamente exposto a estados de alma e interpretações abusivas de quem julga e decide?
Seremos realmente livres quando aqueles que têm a tarefa de nos informar de forma independente e equidistante são confrontados com a angustiante opção de se subjugarem aos interesses particulares e individuais dos seus patrões ou perderem os seus empregos?
Seremos realmente livres quando os nossos líderes optam pela via mais fácil do conforto das vítimas, da congratulação dos vencedores, das palmadinhas nas costas, das fotografias de ocasião, em vez de cuidarem e zelarem por todos aqueles que representam e que neles confiaram?
Seremos realmente livres quando ainda somos orientados por instituições que encobrem os crimes hediondos cometidos por alguns dos seus membros, numa vã tentativa de se manterem respeitáveis, relevantes e influentes?
Seremos realmente livres quando contemporizamos com líderes demagógicos, criminosos nalguns casos, de esquerda ou de direita, só porque é politicamente correto ou só porque isso cairá bem na nossa legião de fãs e apoiantes?
Seremos realmente livres quando, a cada dia que passa, a nossa sociedade está, assustadoramente, mais semelhante à sociedade descrita por George Orwell na sua obra 1984? Estaremos próximos da criação de um Ministério da Verdade?
Seremos realmente livres quando somos obrigados a pensar, todos, da mesma forma para sermos considerados progressistas?
Se esta é a verdadeira liberdade, se é para esta liberdade que caminhamos, então, o 25 de abril e outras revoluções semelhantes falharam estrondosamente.
Queríamos o fim da censura e agora não podemos dizer o que pensamos.
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