Quando a pluralidade e o debate, armas do contexto democrático, conseguem contribuir para a degradação do exercício livre da governação e da oposição.
A qualidade da Democracia, na Madeira, por ser da Madeira esta reflexão, embora aconteça por outros lados, está a definhar. Degradou-se ao longo dos tempos, acho que sem darmos muito por isso fomos "invadidos" por um Governo sem "Oposição" e uma Oposição sem "Governo". Foi quase sem sentir, como se a dado momento uma faixa do eleitorado assinasse de "cruz" para um quadro parlamentar que pudesse alterar o poder absoluto e que representasse, de algum modo, uma pluralidade a fazer oposição séria, responsável, segura, consciente e que valorizasse, com isso, a própria forma de governar. Só que esse eleitorado, parecendo saber o que queria, colaborou na mudança mas cometeu equívocos de representatividade a quem não teve estofo para essa "carta branca". Um risco de assinar de "cruz".
Conseguiu manter o Governo sem maioria absoluta, alargando essa diferença, mas a pluralidade ficou assente, em parte, num quadro de inexperiência, confusão, inconsistência e ineficácia em todos os aspetos da retórica político partidária e parlamentar. A pluralidade é uma das riquezas da Democracia, mas se for imatura e inconsequente, baralhada e intermitente na negociação, sem convicções e sem projetos alternativos, pode representar quase que uma garantia para a governação e esta nem precisa de brilhantismo, basta ir andando com uma "cenoura" por perto. Uma espécie de poder garantido.
Muitos madeirenses tiveram oportunidade de acompanhar o debate que a RTP M promoveu relativamente às eleições internas do CHEGA Madeira. Sendo o debate uma arma de excelência da Democracia e desde sempre uma das formas de esclarecimento sobre diferentes opiniões, quer internas dos partidos, quer entre os diferentes partidos, tem às vezes um efeito contrário de darmos conta, sem darmos por isso, que a Democracia é o menos mau dos sistemas, mas há debates que se não acontecessem prestariam um grande serviço à Democracia. Foi o caso. O CHEGA teve votos, os eleitores confiaram o protesto em André Ventura, e exerceram o voto como se exerce o voto desde sempre na Madeira, ou seja ninguém vota em deputados, nem os conhecem, votam no líder. E quem votou CHEGA, votou Ventura. Mas agora, por terem votado assim, levam com isto. Levam eles e leva o resto, que agora vê a governação e a Democracia da Madeira nas mãos de um partido que dá aquele espetáculo, além de todo o espetáculo que já deu no Parlamento, sendo no entanto de salvaguardar algum papel de denúncia e de raciocínio crítico por parte da representação parlamentar na República, goste-se ou não do protagonista. Mas é o que se aproveita, a léguas do resto, desta ação política do CHEGA Madeira.
Para ver como a pluralidade e o debate podem manchar o espectro democrático, temos alguns episódios no Parlamento, particularmente protagonizados pelo CHEGA. E é preciso dizer, também, que a responsabilidade é do principal partido da oposição, o Partido Socialista, que perante tanto contexto favorável, com incêndios, com Justiça e com alguns "tiros nos pés", mantém-se um pouco em "banho maria", oferecendo um espaço "seu" ao JPP e ao CHEGA, sendo que o Juntos pelo Povo, com alguns lapsos de percurso resultantes da crise de crescimento, ainda assim faz uma oposição mais musculada. O PS lá sabe, mas para ganhar jogos é preciso marcar golos.
Não sabemos o que irá acontecer nesta primeira Sessão Legislativa da Legislatura. Mas se não houver um Parlamento com adultos na sala, capazes de negociações que o eleitorado entenda sem favores do momento, jamais este enquadramento democrático dará resultados. Nem para o Governo, nem paraca Oposição. Mas sobretudo para quem tem mais a perder: os madeirenses, não digo porto-santenses por entender que quando nos referimos a madeirenses já estão os naturais do Porto Santo.
Vamos aguardar. Mas se todos aguardarem sentados, a tendência será adormecer. É isso que queremos?
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