Henrique Correia
A vida, tal como a conhecemos, não voltará...
Nada será igual, por muito igual que queiramos fazer para parecer que não aconteceu nada. Não é pessimismo, é realismo com o qual vamos construir um chamado mundo novo

A aviação, tal como a conhecemos, não voltará mais. Foi assim que o presidente executivo da TAP falou sobre o futuro da companhia, hoje, na Assembleia da República, onde disse que a estratégia para a reestruturação de futuro é viável. O que não será viável, por certo, é a vida de muitos trabalhadores, que vão arrastados pela crise, como tantos outros, de quase todos os sectores.
Não é só a aviação que não será mais aquela que conhecemos. A vida já não será a mesma, nem na aviação, nem no turismo, nem na forma como a sociedade está estruturada, mas também em tudo o que nos caraterizava no dia a dia, na família, no trabalho, na escola, nos restaurantes, nos cafés, no posicionamento perante o mundo. Nada será igual, por muito igual que queiramos fazer para parecer que não aconteceu nada. Não é pessimismo, é realismo com o qual vamos construir um chamado mundo novo, um mundo diferente e com uma transição dolorosa sob múltiplos aspectos, desde logo um quadro negro de desemprego face à fragilização da economia, um quadro preocupante do ponto de vista da Saúde, com patologias que irão juntar-se à pandemia e perdurar no tempo, não se sabendo muito bem quais as consequências. Será preciso esperar enquanto se sofre.
Claro que o presidente da TAP não disse nada de novo. A aviação, parada, não pode voltar a ser o que era. A TAP, tal como outras companhias, não será a mesma, já não era antes, mas agravou-se. O turismo, também não. Com graves consequências para a Madeira, que nele assentou o modelo de desenvolvimento e agora está "à rasca" para recuperar e, mais do que isso, porque já viu que essa recuperação não será o futuro, para mudar esse modelo com resultados rápidos. Não será fácil, o vice presidente até pode falar das soluções digitais, dos nómadas, da economia verde, da alternativa ao turismo, mas na prática será preciso tempo para o equilíbrio da Região e para que a mudança de estratégia dê resultados, dê emprego, dê vida à vida dos madeirenses. Haverá certamente gerações com perdas irreparáveis, mas as perdas vão chegar a todos, de uma forma ou de outra.
Será uma questão de tempo para que nos possamos aperceber da importância de relativizar quase todas as nossas prioridades. Ir mais ao essencial e menos ao acessório. Relativizar (quase) tudo. Menos a vida. Porque a vida, mesmo não sendo a que conhecemos, será vida. E vale a pena lutar. Por aquilo que podemos vir a conhecer.