Albuquerque foi politicamente correto e ninguém esperava que fosse outra coisa. Reagiu com normalidade, assim dá "corda" ao novo parceiro até ao intervalo mas já sabe o resultado final.

Miguel Albuquerque é um político hábil. Dizem que tem mau feitio, que sai do sério vezes sem conta como se não houvesse amanhã, consulta democraticamente e decide sempre como tinha pensado antes, quer tudo pronto, e pronto, o importante é resolver sem problemas e quando tira o tapete pode ir um amigo junto que nem pestaneja. E mais Governo do que partido, mais decisão do que conversa enquanto vai publicitando a vertente do diálogo e da concertação desde que o resultado final seja o que quer.
É também esta parte que carateriza o presidente do Governo na gestão das coligações que soma nos últimos atos eleitorais, onde o PSD perdeu a maioria absoluta que vinha sendo dominante na governação de Jardim, uma escola onde Albuquerque andou e andou bem dentro. Não consegue, agora, manter essas maiorias, tem a ver com um desgaste lento do PSD, com a mudança lenta do eleitorado, mas está a acontecer e o próprio Albuquerque sabe disso e por isso fez uma intervenção habilidosa com o acordo de incidência parlamentar com o PAN. De novo o que lhe serve para o que quer.
Quando Miguel Albuquerque deixa "correr" o PAN com a retórica da conferência de imprensa, ou melhor um momento para ler uma declaração, relativamente ao teleférico do Curral, sabe muito bem que se trata de uma encenação que vai terminar com a construção do teleférico, mesmo com peqyenos ajustes para que o PAN não perca a face toda nesta matéria. Como disse a deputada Mónica Freitas, uma coisa é mandar propostas na oposição, outra é fazer parte de um governo e ter que decidir com contornos de visão governanental. Na oposição é fácil: teleférico no Curral, não. E fica por aí. Com este acordo com o PSD, é diferente. É preciso ver bem o projeto, é preciso falar com a população, é preciso reunir as forças vivas e, no final, faz-se o teleférico. Por ser bom, por dar emprego, por desenvolver a freguesia, por não poluir o ambiente, porque vai trazer mais valia a uma zona, bom para todos, como disse Miguel Albuquerque. Vai o PAN meter areia na engrenagem só para dizer que defende o Ambiente? Terá força para ir até ao fim com aquela que era a posição do partido expressa nem tem um ano? Vai o PAN contrariar um projeto que segundo o presidente do Governo é essencial para o desenvolvimento? Vai o PAN travar uma infraestrutura já adjudicada, com os consequentes processos que possam envolver indemnizações? Estará o PAN a ganhar tempo para ver como vai dar a volta à inconsistência de posições? Será esta a primeira "prova de fogo" do partido que segura o Governo? Será um fogo que "arde sem se ver" ou nem chega a "arder"?
Albuquerque esteve bem ao dizer que esta atitude do PAN está em consonância com o acordado. Foi politicamente correto e ninguém esperava que fosse outra coisa. Reagiu com normalidade, assim dá "corda" ao novo parceiro até ao intervalo mas já sabe o resultado final. A experiência fala mais alto e Albuquerque nisso mete o PAN no bolso, com o devido respeito pela estratégia desenvolvida pelo PAN neste acordo de incidência parlamentar que só o tempo poderá dar uma ideia mais certa sobre a eficácia, não para os partidos em causa, mas para quem votou.
E atenção: não é verdade que esteja a ser cumprida a vontade do eleitorado. O eleitorado quis dar uma votação alargada ao PSD mas sem a maioria absoluta. O eleitorado não se pronunciou além disso...
Comments