Henrique Correia
Albuquerque "enfrentou-me e perdeu"; Passos Coelho fez "genocídio social"
Alberto João Jardim na entrevista dos 80 anos ao DN Lisboa:"Deixei-lhes o partido com maioria absoluta. Só perderam depois do Alberto João sair".

Alberto João Jardim deu uma entrevista ao DN Lisboa, agora publicada nos 80 anos de idade do antigo presidente do Governo Regional, que vive uma reforma ativa no Quebra Costas, a casa de família que vendeu à Fundação Social Democrata e comprou depois, recuperada, para montar o escritório e passar os dias a se indignar como sempre com a política do Paíse da Região. Foi ali a conversa com o jornalista, meteu de tudo, até houve dois meios dedos de uísque para "temperar" tanta "espinha na garganta" do homem que governou a Madeira durante quatro décadas.
Falou de um "ódio de estimação", Passos Coelho, a quem atribui uma cabala, em apoio de Miguel Albuquerque, para assaltar o poder no PSD Madeira. Falou de histórias já conhecidas, de Guterres, de Sócrates, da sua saída do partido, de Soares, de Eanes, de Santana Lopes, falou de uma vida na política sem esquecer a política da vida que percorreu até deixar o Governo. Diz que "o desenvolvimento faz-se até eu sair do governo". Uma declaração arrojada por parecer que nada foi feito depois, o que também não é verdade mesmo tendo em conta as expetativas de uma renovação para ficar os mesmos modelos e métodos do PSD de sempre.
Eternamente apreciador de Sá Carneiro, diz que "era um autonomista, talvez por ser um homem do Porto, por ser um homem muito influenciado pela Doutrina Social da Igreja Católica. Agora, neste momento, os adversários da autonomia são os liberais que ocuparam o PSD".
O jornalista questiona se acontece com o PSD daqui. Jardim confirma, mas reserva-se em apontar o dedo, deixa um simples "o povo sabe". Aborda a governação de Miguel Albuquerque: "Começou mal depois de mim, mas "tá" entrando na calha. E parece-me um erro, mas a Madeira está a ser influenciada por aquilo que se está a passar no país, que é a substituição do Estado Social pelo Estado Assistencialista. Esta gente pensa agora mais nos votos . O assistencialismo mantém a pobreza. Dá esmola, fica tudo igual. A política tem que ser a do investimento, criação de emprego, salários justos. Foi sempre a minha receita."
Mantém-se no assunto Albuquerque, Jardim não esquece quem o enfrentou: "Enfrentou-me uma vez e perdeu. A maçonaria esteve fortemente ligada ao processo da minha substituição. Não estou a dizer que o Miguel seja da maçonaria, mas estiveram fortemente empenhados na minha substituição (...). Tenho maioria absoluta em outubro de 2011, mas os gajos em 2012 querem eleições para me porem na rua, para me afastar. A certa altura eu tinha mais adversários dentro do partido do que na rua, as pessoas que votavam. Na rua estava bem, o problema era aqueles sacanas lá dentro [do partido]". A verdade é "só uma", diz: "Deixei-lhes o partido com maioria absoluta. Só perderam depois do Alberto João sair", reforça o antigo presidente nesta entrevista".
E vem o inevitável Passos Coelho: "Passos nunca entendeu as autonomias, porque é um retornado de África. E acha tudo isto uma ameaça à unidade nacional. E o Cavaco também não gostava muito dele. O Passos começou a apoiar o [Miguel] Albuquerque contra mim. Chegou ao ponto de vir à Madeira homenagear os ingleses que tinham sido contra o PSD o tempo todo. E a última foi quando houve aqui, no Congresso, a passagem de testemunho. Fundei o partido aqui, dei 40 e muitas vitórias ao partido, consegui mudar um pedacinho a Madeira, e ele nem uma palavra teve para mim. Nem sequer um "Olha, obrigado Jardim". Nada. Foi como se eu não existisse. Isto é ofensivo. Vim a saber que ele tinha dito numa reunião que "O Jardim, daqui a três meses, ninguém se lembra dele". Olha o sacana!"
E mais: "O que ele fez foi uma política de genocídio social. Não se recupera uma economia cortando salários, recupera-se travando a inflação. Não se tira poder de compra às pessoas. Não se vai tirar a uns desgraçados, já com reformas vergonhosas, o pouco que têm. O que ele fez ao país é imperdoável. É a negação da social-democracia."