Henrique Correia
Albuquerque insiste em Calado para o Funchal e "evita" Manuel António
Manuel António Correia tem feito uma chamada "travessia no deserto". Mas dizem que tem ideias e algumas "tropas". Falta saber se chega para um "Regimento".

A pandemia não deixa Albuquerque segurar o partido. A governação toma-lhe o tempo todo, é natural, a crise é profunda e nem se sabe muito bem como é que a Madeira vai reagir, primeiro na Saúde, depois na economia. Não é que antes o líder apostasse muito na máquina partidária, mas agora é diferente, há um contexto único, um desafio que ninguém estava à espera e que, no meio de um turbilhão, será preciso conciliar com umas eleições, as autárquicas, que vão marcar a governação local, mas também a regional. E o líder está sem tempo, cronológico e não só, para definir a estratégia, que neste caso é abrangente, não é só o Funchal, embora as baterias sejam para o Funchal, pelo peso e pela envolvência que traria uma vitória ou uma derrota, para o futuro.
Sabe-se que Miguel Albuquerque quer jogar pelo seguro, sabendo que não vai poder definir um plano muito elaborado. E esse seguro é insistir em Pedro Calado, mesmo sabendo duas coisas: não é garantido o sucesso da operação e certamente estará garantido um desfalque, de monta, no Governo. Mesmo assim, é o preferido para a opção autárquica, não sem Albuquerque se submeter a uma pressão interna, que defende Calado no Governo por considerar que foi o ponto de equilíbrio da governação regional. Dizem-nos mesmo que Alberto João Jardim, numa situação de não ter nada a perder, já terá ameaçado abandonar o partido se Albuquerque tomar determinadas decisões, como mandar Calado para a Câmara e "promover" Jaime Filipe Ramos, uma possibilidade que estará a ser colocada em "banho maria" pelo líder.
Mas Calado não quer ser candidato à CMF, já o disse em círculos próximos. Está consciente das capacidades, mas também das dificuldades, uma vez que Miguel Gouveia ganhou peso na Câmara do Funchal, sobretudo numa faixa onde Calado sente mais dificuldade, descer ao povo. E isso pode ser importante numas eleições locais. Mas mesmo não querendo, pode falar mais alto uma missão em nome do partido, mais ou menos aquela que foi pedida a Rubina Leal, com os resultados conhecidos, para o partido e para a própria.
Diversas fontes garantem que o PSD-M está dividido, que a ideia de Albuquerque é não ir além de 2023, uma situação que faz sentido tendo em conta que sempre deixou visível uma intenção de não se eternizar na liderança. E já por diversas vezes terá manifestado essa situação a alguns colegas de governo. Isso explicaria a solução Calado na CMF, para tentar resolver o imediato, mas sem pensar no curto/médio prazo. Do género "quem vier que feche a porta".
E é aqui que entra Manuel António Correia, um homem dos governos de Jardim, que fez um compasso de espera para ver resolvido o processo em tribunal, já foi absolvido, sem que essa situação fosse motivo de qualquer palavra dos atuais quadros do partido, não recebeu mais de um telefonema, e a título pessoal. Não caiu bem este "silêncio". O que não impedirá o antigo secretário regional de ponderar uma candidatura à liderança do partido, havendo mesmo quem defenda esse regresso político ativo já para a Câmara do Funchal, ainda que menos viável.
Manuel António Correia tem feito uma chamada "travessia no deserto". Mas dizem que tem ideias e algumas "tropas". Falta saber se chega para um "Regimento".