Henrique Correia
Albuquerque na "Região" das maravilhas
Declarações menos felizes existem e existirão sempre, reações às mesmas também. Não vem mal ao mundo, é preciso "poder de encaixe". Quando os políticos não tiverem...

De tempos em tempos, o presidente do Governo Regional tem estas "tiradas" que nos fazem refletir sobre se estamos a viver no mesmo enquadramento de sociedade ou se é apenas confusão conjuntural de leituras e de conveniências. Ir a um Fórum de Empregabilidade, na Universidade da Madeira, onde o mercado de recrutamento está assente, prioritariamente, nos jovens qualificados, com curso superior, e dizer que não há desemprego qualificado e que os jovens qualificados só estão desempregados por opção, não só é uma afirmação surpreendente como também talvez represente a inexistência de razão de promover um Fórum que, seguindo Albuquerque, não faz sentido face a esse pleno emprego numa faixa que é privilegiada por esse Fórum.
Muitas vezes, não é o que se diz mas sim como se diz. E foi o caso, uma vez que mandava a prudência evitar aquela afirmação destituída da mínima dúvida: "Questionado pelos jornalistas, acerca de jovens qualificados desempregados, Miguel Albuquerque sublinhou serem muito poucos e os que existem estão-no, na sua maioria, por opção própria. "Ou é por estarem a fazer reciclagem de conhecimentos ou porque estão a aprofundar as suas habilitações. Todos os jovens qualificados têm, neste momento, uma base de oferta de emprego muito boa, não só aqui como para fora da Madeira», sublinhou.
É verdade que depois de várias reações, Miguel Albuquerque esclareceu, já ontem, quinta-feira, segundo publicou o JM, a sua posição depois das críticas do líder do PS-Madeira: "O que eu disse, e que mantenho, é que os jovens hoje têm todas as oportunidades de ter um emprego qualificado na Madeira. Ninguém é obrigado, quando acaba o curso, a ir trabalhar logo. Pode estar a estudar opções, fazer o mestrado, pode eventualmente fazer um conjunto de experiências…”
Muito mais suave do que no dia anterior, menos a quente, menos de "peito cheio", mais assertivo na ideia e muito mais adequado à realidade explicando sem desrespeitar, apontando sem juizos de valor sobre a realidade. Não chega ouvir uma parte, a dos empresários, é preciso saber, no terreno, o que sofrem os candidatos. Malandros há nos dois lados, por isso quem manda, manda para todos.
Acontece, também na política ou essencialmente na política, sobretudo com determinados protagonistas com responsabilidades de topo, serem escrutinados pelo que fazem e pelo que dizem. E como falam muito e todos os dias, nem sempre sai tudo bem. Declarações menos felizes existem e existirão sempre, reações às mesmas também. Não vem mal ao mundo, é preciso "poder de encaixe". Quando os políticos não tiverem...
O que dizem os pais cujos filhos estão inscritos no desemprego ou se candidatam a empregos com centenas de candidatos, a maioria com qualificação superior, para dois ou três lugares? O que dizem a empregos temporários quase sem regras, através de empresas que ganham por formandos e passam o tempo a formar e a dispensar qyem já foi formado? E o que dizem os enfermeiros que, numa determinada conjuntura, foram para fora?
É preciso alguma contenção com temas tão delicados. Mas isso Miguel Albuquerque já sabe...