"Cafôfo deve ter a clareza de espírito de fazer o que fez Miguel Iglésias e sair do palco"
- Henrique Correia
- 16 de abr.
- 3 min de leitura
João Pedro Vieira defende a saída, também, de outros conselheiros próximos do líder do PS-M, "abrindo espaço à reconstrução profunda do PS, sob pena de o levarem à total irrelevância política".

João Pedro Vieira diz: "Apenas a corajosa candidatura de Emanuel Câmara como cabeça de lista do PS à Assembleia da República é de sinal positivo".
O Partido Socialista Madeira atravessa uma situação de crise interna sem precedentes, não tanto por ter perdido as eleições regionais, que em boa verdade nunca ganharam, mas por terem perdido o estatuto de principal partido da oposição em favor do JPP. O PS-M perdeu votos, perdeu deputados e os críticos pedem a "cabeça" de Paulo Cafôfo, cujo entendimento foi o de assumir a derrota estrondosa mas sem sair já da liderança, o que desde logo foi uma decisão contestada.
João Pedro Vieira, antigo vereador no Funchal e antigo secretário-geral do partido, tem sido uma das vozes dissonantes relativamente à forma como Cafôfo trouxe o partido até aqui. Num artigo publicado no Diário, deixa claro que "o tempo da reflexão já passou; agora é tempo de agir, antes que seja tarde demais".
"O que as últimas eleições regionais confirmaram é que, desde 2019, a Madeira viverá uma década perdida - e isto já depois de ter perdido a oportunidade de mudar de rumo com a saída de Alberto João Jardim do poder, em 2015. Uma década perdida porque, desde que fez tudo o que estava ao seu alcance para ganhar as eleições de 2019, Miguel Albuquerque estará no poder pelo menos até 2029. Uma década perdida também para a oposição, por vezes entregue a figuras que ninguém sabe bem o que fizeram antes da política e muito menos o que farão depois dela".
Para João Pedro Vieira "não é só o regime que precisa de uma revolução; é a oposição que precisa de uma refundação - e agora tem tempo para fazê-la, se realmente quiser. Se o calendário se cumprir, 2029 será o ano de todas as eleições: europeias, legislativas, regionais e autárquicas. Perante este cenário e a confirmar-se a saída de cena de Miguel Albuquerque, a opção da oposição é simples: ou a mudança começa a construir-se agora, ou tudo o que sobrará será mais do mesmo. Quererão os partidos realmente fazê-lo, ou continuarão entrincheirados e fechados sobre si mesmos, a fazer tudo igual, mas à espera de resultados diferentes".
No caso concreto do PS, acrescenta "Paulo Cafôfo deve ter a clareza de espírito de fazer o que fez Miguel Iglésias e sair do palco, permitindo que o PS se reconstrua, antes que desapareça. Com eles, outros conselheiros próximos deviam fazer o mesmo, abrindo espaço à reconstrução profunda do PS, sob pena de o levarem à total irrelevância política. Os resultados das últimas eleições desenharam no horizonte autárquico nuvens negras, que dificilmente se dissiparão. Apenas a corajosa candidatura de Emanuel Câmara como cabeça de lista do PS à Assembleia da República é de sinal positivo, porque recorda a todos os socialistas um trajeto de luta, que levou tempo a construir, mas que foi possível erguer com muito trabalho, que os madeirenses terão oportunidade de reconhecer nas próximas eleições. Só uma candidatura assim pode aspirar a evitar a catástrofe do PS ficar reduzido a um deputado na Assembleia da República, como se prevê com base no resultado das regionais. Tal como, depois disso, só uma candidatura de Miguel Gouveia no Funchal, que una os principais partidos da oposição em torno de uma das maiores, mais sólidas e consistentes figuras que a política regional tem neste momento, será capaz de manter viva uma ideia diferente para a capital, que tanto precisa dela".
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