Henrique Correia
Calado "discreto" é a surpresa da (im) popularidade
De resto tudo esperado: Pedro Ramos, Miguel Albuquerque e Filipe Sousa em alta; Rui Barreto e Paulo Cafôfo em baixa

As sondagens existem, os estudos também, como as comissões de inquérito e os grupos de trabalho. Trabalham à medida do que se pede, é mais ou menos aqueles trabalhos que as empresas encomendam a outras, da especialidade, para estudarem a viabilidade e para mandar gente para o desemprego. Com nomes previamente escolhidos. Por isso, antes de qualquer avaliação, é preciso cuidado, credibilidade quanto baste, nem muita euforia para o topo, nem muita tristeza para o fundo.
Vem isto a propósito do estudo do JM, divulgado hoje, que pretende mostrar a popularidade dos políticos, surgindo sem novidades o presidente do Governo e o secretário regional da Saúde no topo das preferências. Mesmo com margem de erro, é um estudo que corresponde ao que se sente, ao que se ouve e sabe neste momento. A pandemia, a forma geral de gestão, o mediatismo num contexto de grande tensão num setor nevrálgico, foram determinantes para Miguel Albuquerque inverter a tendência de descida que vinha apresentando, antes da Covid-19. Pedro Ramos, enquanto secretário regional da Saúde, também ganhou protagonismo e indo a "todas" soube capitalizar esse posicionamento presente em diversos momentos. Sendo médico, foi a sua maior percentagem de político que tirou vantagem.
Mas nesta consulta, há um dado que pode surpreender muitos, mas que é normal: a popularidade de Filipe Sousa, o presidente da Câmara de Santa Cruz. Normal, o PSD terá muita dificuldade para recuperar a Autarquia e Brício Araújo, recém chegado à ribalta política, não parece suficientemente forte para reconquistar a Câmara, além de que a estratégia social democrata poderá não ser a melhor para dar muito trabalho ao JPP. O estudo veio corporizar o que se passa no concelho de Santa Cruz. Não será nada fácil para o PSD.
O CDS está em queda. Também normal. Entrou na coligação governativa regional com o "selo" de aproveitamento, ainda que estrategicamente, em termos de projeto com poder, essa fosse a melhor solução para governar, num momento em que até teve queda de votos. Há como que uma penalização, mais do CDS do que do PSD, relativamente à viabilidade governativa, sobretudo para os que defendiam e esperavam a mudança. E Rui Barreto, a cara do projeto CDS, tem a popularidade que tem, além de que em ação governativa perde muito tempo em excessivos e desnecessários elogios à coligação e a alguns colegas do governo, com insistentes garantias de haver acordo até ao fim. Para haver estabilidade, é suficiente haver. Muita publicidade é dispensável. Só se não houver essa certeza interna.
Quanto a Paulo Cafôfo, também nada de novo. É natural o que está a acontecer ao líder do PS-Madeira, que em circunstâncias muito especiais conseguiu fazer confluir
todas as energias de mudança, muitas provenientes do PSD, mas depois disso, ao não conseguir o objetivo, foi perdendo fulgor e hoje passa por um processo nada fácil de ser oposição, com aspirações a governar, já de si dificil em condições normais, mas mais complicado num contexto de pandemia. Um trabalho muito complexo, que tem nas Autárquicas uma avaliação intermédia.
Outro dado algo curioso deste estudo é o patamar para onde estão relegados Miguel Gouveia e Pedro Calado, sendo este último uma aposta forte do tudo ou nada do PSD para o Funchal, precisamente com base no trabalho que o vice tem feito no Governo e da sua popularidade. Mesmo tendo em conta tratar-se de uma consulta abrangente e não especificamente para o Funchal, não deixa de ser fator de relevo, pela negativa, esta ausência de topo de Calado, ainda mais porque há consulta sobre a popularidade de membros do Governo, onde até diziam estar bem colocado.
É esperar pelo próximo estudo. Pode dar diferente.