D. Américo Aguiar: "Nunca tivemos uma geração tão preparada, mas, também, nunca tivemos uma geração tão defraudada nas suas expectativas”.
A lógica do crescimento económico, da importância das empresas na criação de empregos, da necessidade de lucros como resultado da produção, e do trabalho que deve ir além das 9 às 5 mas com vencimentos baixos, forma um cenário que o cardeal Américo Aguiar, Bispo de Setúbal, veio de certo modo desmontar com um alerta às empresas relativamente aos trabalhadores. Não foi o Bispo do Funchal, com uma gestão muito mais espiritual e doutrinária mas foi o Cardeal, trazendo a interligação da Igreja com a sociedade, trazendo os problemas da sociedade pela voz da Igreja.
D. Américo Aguiar fê-lo com um desafio: "As empresas devem apostar na realização pessoal dos seus trabalhadores e no bem-comum".
O pedido foi dirigido na conferência sobre “Colunas da Doutrina Social da Igreja, Faróis para Gestão Feliz… e com Lucro”, realizada no Salão Nobre da Assembleia Legislativa da Madeira. Na iniciativa, promovida pela Diocese do Funchal e pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), o Cardeal português explicou como a doutrina social da igreja pode ser um pilar para o sucesso empresarial, social, económico e ambiental.
Como primeira coluna, apontou a dignidade humana, reforçando a importância do reconhecimento do trabalho não apenas pelo ordenado justo, mas, também, através da valorização da vocação pessoal. O cardeal D. Américo Aguiar mostrou-se preocupado com as expetativas dos jovens, que com cada vez mais formação, anseiam por patamares “materiais altos” que as empresas e a sociedade não conseguem garantir. “Nunca tivemos uma geração tão preparada, mas, também, nunca tivemos uma geração tão defraudada nas suas expectativas”, disse.
O bem-comum foi outros dos aspetos aflorados na palestra. “Parece muito fácil, mas às vezes é difícil tomas decisões que sejam boas para todos”, afirmou o Cardeal apelando ao bom senso dos dirigentes nas orientações que devem beneficiar o máximo de pessoas.
A subsidiariedade, como terceira coluna da doutrina social da igreja, foi outra das medidas apontadas para o sucesso. É muito importante que cada um, na simplicidade da sua tarefa, possa sentir como seu o produto da empresa. Por isso D. Américo Aguiar relevou ser de extrema importância apostar na concretização e na realização profissional e pessoal dos colaboradores. “O segredo é conseguir com que os trabalhadores se identifiquem com projeto empresarial”.
Como quarto pilar, o bispo de Setúbal apontou a solidariedade e a caridade. “As empresas devem ter a capacidade de ajudar aqueles que por alguma razão foram excluídos ou estão em condições de fragilidade”.
Referindo-se aos lucros, o Cardeal é defensor de que “se o resultado do empenho de todos resultou numa mais-valia, então essa mais-valia deve ser colocada ao serviço de cada um”, desafiando os empresários que se identificam como cristãos a “terem presentes as referências das 4 colunas da doutrina social da igreja” (dignidade, bem-comum, subsidiariedade e caridade).
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