Henrique Correia
Dúvidas sobre o que vai dizer Sérgio "social-democrata de pensamento livre"
Em sede de comissão de inquérito vai dizer diferente do que diz que disse? (Declarações ao DN "referem-se a momentos do passado, e que estão distantes da atualidade política regional...São temas onde sou coerente com as minhas opiniões, mas que fazem parte do passado"

O dossier Sérgio Marques está fechado para Miguel Albuquerque. "Fechado vamos indo", como dizemos na nossa linguagem corriqueira, uma vez que para uma faixa de quadros do partido não será bem assim a avaliar por alguns contactos que têm muitas dúvidas se um possível "ajuste de contas" não estará para acontecer em sede de comissão de inquérito parlamentar sobre as declarações do deputado que apontam para pressões de empresários ao Governo Regional e uma política de obras sem obedecer a prioridades.
Estas dúvidas sobre o futuro comportamento de Sérgio Marques quando for ouvido na comissão de inquérito, para mais num contexto de ano de legislativas regionais, adensaram-se com uma declaração que o próprio Sérgio publicou aquando do anúncio da renúncia ao mandato de deputado na Assembleia da República e demissão dos cargos no partido, explicando um dos motivos da decisão: "Por também querer manter-me como um social-democrata de pensamento livre". A outra razão foi ter deixado de reunir condições para o exercício dessas funções.
Esta necessidade de "pensamento livre" é interpretada como um aviso à "navegação", uma vez que Sérgio Marques manteve, desde há muitos anos, um papel ativo nos órgãos do partido e conhece, por dentro, a mecânica partidária e governativa, os contornos, as eventuais pressões e os supostos expedientes com que se move a política na relação interna e com o exterior.
Mas claro que se for essa a intenção de Sérgio Marques, de ir à comissão de inquérito falar tudo o que sabe e quer para embaraçar o PSD-M, deixou pelo caminho algumas declarações que o impedem de levar, coerentemente, essa eventual intenção. De facto, numa explicação recente sobre as declarações ao DN Lisboa, Sérgio deu enfoque à coerência ("Continuo coerente com as minhas convicções"), sendo que nesse enquadramento só pode ir à comissão dizer o que diz que disse ao jornalista do DN Lisboa e que repetiu publicamente: "Depois das declarações oficiais, conversei com o jornalista informalmente sobre opiniões minhas que todos conhecem, que não são segredo, mas que se referem a momentos do passado, e que estão distantes da atualidade política regional...São temas onde sou coerente com as minhas opiniões, mas que fazem parte do passado". Reafirma que houve, na entrevista, "uma parte informal que não foi, obviamente respeitada. Porque, como referi, estão longe de ter actualidade e pertinência".
Estas declarações, se assentes na coerência referida, terão pouca relevância atual na comissão de inquérito. Ou seja, não há pressões, não há facilitismos, não há obras "inventadas". Já houve. Como diz Sérgio Marques, "não tem pertinência atual".
O PSD-M está reticente sobre as intenções deste "social-democrata de pensamento livre".