Henrique Correia
Deputados do PSD-Madeira "encurralados" pelas pressões de António Costa e Rui Rio
Expresso confirma telefonemas de António Costa, de Rui Rio e de Miguel Albuquerque, com os benefícios fiscais ao CINM como "contrapartida"

Começa a estar clarificada a posição confusa que os deputados da Madeira protagonizaram ontem, na Assembleia da República, aquando da votação da proposta do BE que chumbava a transparência de 476 milhões do Fundo de Resolução para o Novo Banco. Numa primeira análise, os três parlamentares madeirenses votaram contra a proposta, dissonantes da posição do PSD, mas logo a seguir emendaram o sentido de voto, a favor, tal como toda a bancada social democrata, com aquela imagem de agitação, transmitida pela deputada Sara Madruga da Costa, ao telefone em pleno Parlamento, recebendo instruções e mudando de opinião em direto.
Além disso, Sara Madruga telefonou a Ferro Rodrigues, o presidente da Assembleia, para estar presente no plenário, que reúne com limite de lugares devido às restrições da Covid-19, com o argumento de que iria votar desalinhada com o PSD e isso justificava o presencial. Ferro acedeu, mas depois, afinal, essa argumentação não serviu porque o voto foi a favor, o que irritou o presidente da Assembleia, incómodo que foi até reconhecido pela própria deputada.
Soube-se hoje, pelo Expresso, que as pressões foram muitas, daí aquela "baralhada". Segundo o semanário, António Costa terá falado primeiro com o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, para sensibilizar o centrista para a necessidade de chumbar a proposta do BE. Sem sucesso, o CDS abateve-se.
Depois, Costa tentou os deputados da Madeira, colocando como contrapartida a manutenção, depois de 31 de dezembro, dos benefícios fiscais do Centro Internacional de Negócios da Madeira, que para esse efeito precisa dos votos do PSD e do PS. Sem dúvida, em desespero, Costa chegou à "chantagem". E os deputados da Madeira vacilaram, votaram como Costa queria, mas entraram em cena Rui Rio e Miguel Albuquerque. Um outro telefonema, entre líderes, nacional e regional, fez mudar tudo e o PSD Madeira voltou atrás. Está explicada a agitação de Sara Madruga, de telefone ligado em pleno Parlamento.
Esta situação, hoje retratada pelo Expresso, revela a falta de sintonia, por um lado, e a forma como se faz política, por outro. As negociações sempre foram legítimas e enquadradas na dialética político-partidária. As pressões são outra coisa.
Ainda ontem, em comunicado, Miguel Albuquerque disse que "os deputados do PSD-Madeira estão, como sempre estiveram , ao serviço do povo Madeirense e dos superiores interesses da Região, acrescentando que "numa altura em que a Região e o seu Governo têm atuado praticamente sem nenhuma ajuda do Estado português, quer no quadro da luta contra a pandemia, quer na resposta social e económica, a posição dos Deputados do PSD/Madeira dependerá sempre da avaliação política em cada momento.
O PSD/Madeira e a sua representação parlamentar na Assembleia da República, continuará a tomar todas as posições políticas que se imponham, para defender a Madeira".
Escreveu, ainda, Albuquerque, que "Tal sucedeu na votação desta manhã, no quadro do Orçamento de Estado para 2021.
Idênticas tomadas de posição (como por exemplo no Orçamento Retificativo de 2015 e no Orçamento de Estado de 2020), dissonantes da posição do Partido a nível nacional, não são inéditas e confirmam o único compromisso dos nossos eleitos: o de colocar a Madeira em primeiro lugar".
Afinal, nem sempre é assim. As pressões, às vezes, alteram certezas que se apresentam como absolutas.