Terá Cafôfo o mesmo carisma que teve em 2019? Poderá ser candidato e explicar que não sai a meio de qualquer função como aconteceu na Câmara e no partido? Poderá pacificar o PS-M para que o partido não abra fissuras com os líderes e se divida por dentro?
Albuquerque já fez uma leitura quando disse que a coligação com o CDS não trouxe mais votos.
Sempre foi (quase) assim em todas as eleições regionais. O PSD ganhou, normalmente com grande folga, o PS perdeu, normalmente com estrondo, os outros iam dividindo aquilo que a volatilidade do respetivo eleitorado permitia ou o protesto propiciava com votantes ocasionais. O PSD governava, o PS mudava de líder, com exceção de um muito passado socialista em que dava jeito ficar como está, dava para todos porque a burguesia era igual, e os líderes mudavam menos e davam-se todos bem no regime jardinista, que pode ter registos de erros e injustiças políticas, também relativamentea pessoas, mas também serviu a muita gente da oposição. E assim se explica o percurso político na Madeira.
Então, o que é que mudou desde 2015 com a saída de Jardim e a entrada de Miguel Albuquerque. Primeiro, um PSD fragmentado, depois uma onda de eleitorado que queria a alternância de poder, muitos simplesmente para mudar as "caras" quando lhes diziam que não valia a pena porque eram todos iguais. E de facto, o exercício do poder tem um padrão comum, as ideologias só servem para fingir que são diferentes, mas a diferença está no carisma do lider e na confiança que estabelece com o eleitorado. Com vantagem para quem já está no poder e tem a máquina montada. A probabilidade de reeleição é muito grande face às novas candidaturas. Segunda razão da mudança, apareceu realmente uma figura que ganhou a Câmara do Funchal em 2013, num contexto de mudança no Poder Local, repetindo a vitória em 2017 e que teve depois influência ao assumir a candidatura à presidência do Governo, como independente, num modelo nunca antes experienciado de o partido (PS) ter um líder, então Emanuel Câmara, e o candidato à Quinta Vigia ser outro e independente (já tinha acontecido com a liderança de Jacinto Serrão, com o militante Maximiano Martins candidato à Quinta Vigia). E quase resultava porque o PS-M conseguiu o seu melhor resultados de sempre com a eleição de 19 deputados retirando a maioria absoluta ao PSD-M, o que acontecia pela primeira vez.
Desde 2015, e não exclusivamente pela transição Jardim/Albuquerque, mas porque o eleitorado também vem mudando, além do desgaste do PSD e de transição de eleitores, a verdade é que o projeto social democrata vem sofrendo alguma erosão que só não é maior porque os adversários ou são fracos ou dão "tiros nos pés". É por isso que, no meio de uma grande vitória, que foi, mesmo perdendo a maioria absoluta, o PSD deve fazer leituras, refletir e mudar o que for preciso para responder a uma perda de votos, sobretudo no Funchal e Câmara de Lobos. Se quiser evitar que daqui a 4 anos venha a precisar de mais um partido. E Albuquerque já fez uma leitura quando disse que a coligação com o CDS não trouxe mais votos. Resta saber o que valia cada um por si.
E agora com Cafôfo? Albuquerque tem razão quando diz que a Madeira precisa de um partido que seja alternativa. O líder do PSD-M, é o que parece, revela uma maior quietude face ao novo quadro parlamentar, e mostra que uma negociação governativa a partir do Parlamento pode "fiar mais fino" e quer, desde já, parecer pelo menos mais "democrata" face aos adversários. E hostilizar Cafôfo não seria um bom começo.
Mas terá Cafôfo o mesmo carisma que teve em 2019? Poderá ser candidato e explicar que não sai a meio de qualquer função como aconteceu na Câmara e no partido? Poderá pacificar o PS-M para que o partido não abra fissuras com os líderes e se divida por dentro? Poderá apresentar uma equipa sem os anticorpos que têm pouca popularidade interna e externa? Se mantém a secretaria de Estado, deverá escolher muito bem o número dois que dê suporte ao projeto. Terá condições para isso? Conseguirá fazer passar a mensagem sem uma escolha exclusiva ao nível dos media, onde ficou e pode ficar "preso" numa "teia" onde o adversário faz-se de "casa" e onde será impossível haver dois vencedores?
Assim à primeira vista, Cafôfo parece ser o melhor candidato. Há outros com condições, mas Cafôfo manteve-se ativo e provavelmente teria resultados diferentes daqueles obtidos por Sérgio Gonçalves. Mas o mais importante não é o candidato, é preciso que o PS-M seja diferente, diferente com pessoas e posturas diferentes, que sejam capazes de colocar no topo do debate os temas do topo que interessam mesmo às pessoas. Se for para ser mais do mesmo e preso a grupos e interesses, então esse é um campo já "ocupado" e, como diz Albuquerque, o que a Madeira e o,Governo precisam é de um partido alternativa para que o PSD não seja a alternativa a si próprio, como tem acontecido.
Kommentare