A confiança cabe em tudo para argumentar o encobrimento de manobras de afastamento de pessoas por opções distintas das lideranças vigentes.
A confiança é, de facto, uma condição essencial numa equipa de trabalho. Independentemente do sector de atividade, independentemente dos cargos em causa. Na Política, por força das especificidades, tem um peso grande nas decisões, mas assente em critérios que nem sempre colocam a capacidade no seu devido patamar e desvirtuam, assim, o exercício da função pública, remetendo-o para uma subordinação ao seguidismo, à militância partidária e, inclusive tantas vezes, dentro desta militância, em várias facções no interior do mesmo partido.
A confiança cabe em tudo para argumentar o encobrimento de manobras de afastamento de pessoas por opções distintas das lideranças vigentes. É a Política ao serviço de interesses pessoas, de grupos, de estratégias partidárias de poder, em claro prejuízo do serviço à comunidade, da chamada causa pública que tantas vezes se transforma, por cumplicidades conjunturais ou já estruturais pelo tempo de poder, em causa particular.
Sem retirar a devida relevância da componente confiança quando se escolhe uma equipa, a verdade é que no caso recente do PSD Madeira essa realidade tornou-se como que uma obsessão num processo de exclusão de pessoas e não de avaliação democrática que até parece servir apenas para eleger o líder. E só aquele líder. A tolerância pela diferença de opiniões, a inclusão de pessoas do mesmo partido em funções públicas, mesmo com opções internas distintas, deveria ser um modo de vida partidária e não uma miragem num partido com o histórico que tem o PSD Madeira.
E não cola a circunstância de comparar com o passado, o tempo de Jardim, para justificar atitudes presentes iguais ou piores. Se era para renovar e fazer diferente, então não se faz diferente fazendo igual. Jardim exerceu um poder "musculado", também afastava pessoas e tinha atitudes de poder absoluto sem permitir grandes debates e sem respeitar, como devia, a vertente do principal órgão da Autonomia fomentando uma certa mediocridade da representação parlamentar. Por isso, alguns jardinistas, incluindo Miguel Albuquerque - um homem de Jardim - diligenciaram no sentido da mudança, de uma suposta nova era, de um PSD-Madeira renovado, uma intenção atraiçoada por alguns seguidores que assim que assumiram o poder deram cabo de qualquer mudança com uma avalanche de "caça às bruxas", sobretudo num momento em que o poder começou a tomar cheiro na incompetência de alguns, que viram nesta oportunidade um momento de ouro para a ascensão, que depois, com o tempo, resultou em queda por falta de sustentação.
Nos últimos tempos, temos assistido ao desfile de escolhas para a governação. E com elas, uma particularidade visível, alguns apoiantes de Manuel António Correia, adversário derrotado por Albuquerque nas últimas internas, mas representando quase metade do partido, têm sido excluídos dos cargos que ocupavam a pretexto da confiança política. Obviamente válido do ponto de vista da legitimidade das escolhas, mas demasiado evidente para se considerar a atitude correta por parte de quem quer unir o partido e diz que o partido está unido. E está unido na parte que está unida. E a menos que expulsem a outra (quase) metade, o PSD-M está longe da união que se pretende num partido. Sem colocar em causa a legitimidade da liderança, que ganhou o partido, ganhou as eleições, tomou algumas medidas e fez obras importantes. Mas nem tudo se avalia pelos números e bem sabemos que as conjunturas de poderes "eternos" seguram poderes.
Acho que o próprio líder, que obviamente remete a responsabilidade para os secretários relativamente às suas escolhas, e fá-lo corretamente para o politicamente correto, deveria adotar uma cultura de integração e participação no PSD Madeira, não de afastamento e exclusão (de funções governativas) de companheiros de partido que, num determinado contexto, pensam diferente mas não podem ser avaliados como adversários e mesmo inimigos. Se este não for o entendimento, o líder do PSD-M só é líder de alguns e não de todos. Sem essa elevação, a descida pode demorar mas será inevitável.
Seria impensável, um dia, aquando da saída de Miguel Albuquerque, o líder seguinte excluir todos os que fizeram parte dos governos da era "albuquerquista". Já pensaram nisso?
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