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Foto do escritorHenrique Correia

Estes aumentos a "torto e a direito" estão de acordo com rendimentos do mercado?


E quando houver menos turistas, porque já existem vários países em dificuldade? E quando esgotar o luxo para comprar luxo? E quando os negócios tiverem necessidade de sobreviver à conta do consumo madeirense




Tudo mais caro (também) no Mercado dos Lavradores. Até onde pode ir o argumento ucraniano?


Será porventura um elemento, mais um, para que possamos refletir sobre o futuro que nos reserva, no futuro imediato, de 2023, mas também num futuro mais alargado. Os aumentos, muitos e alargados nas percentagens, nunca menos de 10%, surgiram em massa neste início de 2023, aliando-se ao estrondoso aumento dos créditos à habitação, cujo montante global "engole" num abrir e fechar de olhos a atualização de rendimentos. Foi só abrir a boca e pedir, mais 10 cêntimos no café, mais 200 euros nos empréstimos, disparo gigantesco no imobiliário e por aí adiante, até chegarmos ao simples Mercado dos Lavradores, onde um vendedor nos confidencia que tudo está mais caro, em parte por aumento real de custos, mas muito à boleia da guerra da Ucrânia, que como se sabe serve para tudo. Ninguém fiscaliza e quando fiscaliza parece que só o comprador é que vê a especulação.

Mas será que ninguém percebe que a recessão está ao virar da esquina? Será que ninguém vê que estes aumentos de "boca aberta", de só pedir porque sim, está em contraciclo com aquilo que a sociedade ganha? Se metade da população vive com o ordenado mínimo, com os jovens a recibo verde quase toda a vida, se uma percentagem de pensionistas tem pensões baixas, se uma outra parte dos trabalhadores não ganha mais de mil euros, para quem é que se destinam estes preços? Estaremos a criar mercado empresarial de preços para uma sociedade que não existe? E quando for preciso, aos empresários, uma gestão destinada ao mercado interno e não tiverem mercado porque o mercado externo estaráem recessão, vão fazer negócio como se afastaram os consumidores locais?

Ainda estará na memória de muita gente o que aconteceu há uns anos com o turismo do Algarve, que vivia essencialmente do mercado britânico e alemão, suficiente, de ral modo que tratava os portugueses como se fossem visitantes que não eram bem vindos. Lembro-me bem desse tempo. Mas também me lembro da recessão que se seguiu e que obrigou os empresários a fazerem "orações" a Nossa Senhora de Fátima para que aparecessem portugueses. Ao ponto do Algarve viver, durante anos, essencialmente do mercado nacional agradecendo a todos os Deuses para que viessem portugueses. Foi uma lição para o Algarve, será porventura uma lição provavelmente para a Madeira, que está deslumbrada pela construção de luxo que empurra os madeirenses para a serra, pela hotelaria cheia, pelo turismo em alta e pela restauração que quer ganhar tudo de uma vez e já adotou pratos a 25/30 euros com 18 euros pelo bife e o resto pelos acompanhamentos. Fora o resto. Uma vergonha que só uma nova recessão, previsível, pode travar. Não se aprendeu nada com a história, não se aprendeu nada com a pandemia, domina o deslumbramento saloio e irracional que o tempo e a crise poderão dar um retorno que irá afetar a economia. E quando houver menos turistas, porque já existem vários países em dificuldade? E quando esgotar o luxo para comprar luxo? E quando os negócios tiverem necessidade de sobreviver à conta do consumo madeirense? Oxalá que dê tudo certo porque a Madeira não aguenta mais crise. Mas por este caminho, fica difícil não prever problemas...

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