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"Foi vitória do Bispo; Foi vitória minha; foi vitória dos cristãos da Ribeira Seca"



Padre Matins Júnior escreveu na hora da saída: "Agradeço a firmeza da vossa fé, mesmo depois da suspensão A Divinis sem processo e sem qualquer fundamento jurídico.- canónico, desde 1977".




"Gostaria de mandar fazer um bolo doce que desse a volta aos seis sítios da Ribeira Seca e convidar-vos a partilhar comigo os sentimentos que nutro por vós nesta hora de despedida", padre Martins Júnior no blogue Senso & Consenso.

 

O padre Martins Júnior terminou o ciclo de pároco da Ribeira Seca. Saiu fazendo parte da História da Madeira, política e religiosa, sempre uma união que de uma ponta à outra marcou a vida madeirense, sibretudo uma época muito particular de convulsão pós período revolucionário, de Democracia frágil e de poder marcadamente forte de quem governava a Madeira.

O padre Martins sai com as queixas de sempre e fala delas com o desassombro de sempre. Há quem goste, há quem não goste. A Madeira foi feita por homens, os homens fizeram a História e esta será avaliada ao longo dos tempos.

O padre, que um dia foi deputado e foi presidente da Câmara de Machico, vai dedicar-se à escrita, tem um blogue onde há muito exercita o pensamento e deixa memórias. Senso & Consenso, assim se denomina o espaço no mundo da internet. Foi ali que publicou dois textos marcados pelo adeus à Ribeira Seca. Um deles lembrando partilhas com os seus paroquianos:


Partilhei convosco a alegria dessa manhã de sol estival quando entrei neste lugar, dia 22 de Junho de 1969, recém-chegado da guerra colonial em Moçambique.

Partilhámos juntos as agruras de tantas vidas nesta terra, então marcada pela ruralidade profunda, sem estradas, sem água potável, sem luz eléctrica.

Partilhámos a cedência do modesto salão da igreja para uma digna escola pública que a Ribeira Seca não possuía.

Partilhámos o ânimo das nossas romagens com versos e canções que espelhavam as nossas mágoas e reivindicações, vigiadas pela polícia da “pide”, vinda do Funchal e disfarçada no nosso adro.

Partilhámos juntos a luta contra o regime da colonia em que os senhorios escravizavam os caseiros e vimos o justo fruto, logo após o “25 de Abril de 1974”.

Partilhei dolorosamente o sofrimento dos paroquianos quando 70 efectivos da PSP ocuparam a igreja, embarrotaram as portas e invadiram a casa paroquial, levando consigo livros de assentos, registos, aparelhagem sonora, tudo o que quiseram, em 27 de Fevereiro até 18 de Março de 1985, às ordens da diocese e do governo regional, sem mandado judicial.

Partilhámos o sabor da oração comunitária, aos domingos, nos poios e montados desta terra, enquanto a PSP mantinha a nossa igreja encerrada.

Partilhei sentidamente a alegria do regresso ao adro e ao altar do nosso templo, após a saída voluntária e, por isso, ‘misteriosa’ das forças policiais.

Agradeço a firmeza da vossa fé, mesmo depois da suspensão A Divinis sem processo e sem qualquer fundamento jurídico.- canónico, desde 1977.

Partilhámos a renovação arquitectónica da nossa igreja em 1999 e a colocação do carrilhão e relógio na torre em 2004, apesar da proibição e ameaças do bispo diocesano.

Partilhámos a humilhação que a diocese infligiu aos cristãos e ao padre da Ribeira Seca quando, em 8 de Maio de 2010, não deixou que a Imagem Peregrina entrasse no adro e na igreja, perante a estupefação da multidão, escandalizada e pacificamente revoltada com a vergonha que ali presenciou, ao vivo.

Partilhámos, enfim, o troféu da nossa justa resistência, em 2019, com a revogação, por parte do novo bispo, também sem processo, da dita suspensão, não obstante o meu desejo que se abrisse processo jurídico-canónico para saber o porquê de 42 anos  suspenso do ministério para o qual fui ordenado em 1962.


O outro texto, de 11 de janeiro


"Agora. Senhor, podeis deixar o vosso servo partir em paz.

Faço minhas textualmente as palavras do velho Simeão no templo de Jerusalém, escritas pelo evangelista Lucas (2, 27-28).

Na hora da entrada de um novo guia-caminheiro da população da Ribeira Seca para continuar a abrir clareiras de pensamento e acção, outras palavras não poderiam ocorrer-me senão as do ancião profeta que de há muito esperava partir.

         “Partir em Paz” !!!

         Ninguém mais que o Povo da Ribeira Seca, em que muito honrosamente me incluo, sentirá tão profunda e serenamente este Voto de “Partir em Paz”, após tantos anos de luta, de trepidação, de ostracismo descavilhados desde o Paço Episcopa Regional.

         Foi vitória do Bispo!

         Foi vitória minha!

        Mas, maior que todas, foi a vitória dos cristãos da Ribeira Seca que aguentaram ”de pé firme e confiante” e durante décadas seguraram a Fé no seu território! Viva !!!

         Para ser ainda mais expressiva a vitória, poderia o Prelado convidar os seus colegas anteriores (um, o principal, já morreu) para o ladearem como nos dias de solene Pontificado e contemplarem ‘ao vivo’ o epílogo de uma saga que terminou definitivamente, com dealbar de uma nova Primavera.

         E não nos esqueçamos de que somos apenas um breve episódio na grande metragem da história dos povos.

Saibamos todos nós escrever guião e marcha no insular quadrante ou na grande galáxia que nos coube viver.

VIVA A VIDA !!!"



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