André Barreto diz que "por cá, temos uma namorada chefe de gabinete participa ativamente em adjudicações ao namorado empresário e está tudo bem".
O gestor hoteleiro André Barreto não é propriamente uma figura do "politicamente correto", antes pelo contrário. É direto, incómodo e inconformado, o que num meio pequeno, onde toda a gente se conhece e de especificidades muito "próprias" ao nível das cumplicidades e das proximidades, provoca um certo "abalo" no debate político.
O seu sentido crítico, não raras vezes explanado, trouxe a debate, desta vez, o processo judicial em curso na Madeira envolvendo figuras públicas no âmbito da política e do mundo empresarial. Foi num artigo publicado pelo Diário que fez o "retrato" da Madeira com base nas relações pessoais que extravasam para as diferentes áreas da vida públicas, a que o povo carateriza como a "cunha", muito nossa ou por inspiração do slogan promocional, com a devida adaptação, "A Cunha Tão Tua".
André Barreto escreve não estar preocupado com a forma como "isto" acaba entendendo "isto" como procesdo, mas a forma como começa. Refere-se à sua preocupação relativamente à normalização de determinadas formas de estar e de atuar durante tanto tempo com tanta gente a fechar os olhos e a aceitar, conveniente e coniventemente, tornando aceitável porque corriqueiro, aquilo que não é nem pode ser visto assim. Em vez de andarmos a desculpar, a relativizar ou a menorizar práticas deploráveis, porque atentatórias dos mais básicos princípios, pensemos se não devemos mesmo assumir que o rei vai nú. Porque vai; ele e parte do seu séquito".
O gestor escreve que "temos relações de proximidade pessoal que, em vez de inibir, promovem negócio. Temos uma completa confusão entre o que é do partido e o que é do Governo", lembrando que "por cá, temos uma namorada chefe de gabinete participa ativamente em adjudicações ao namorado empresário e está tudo bem; pedir escusa, ou pior ainda, ou solicitar ao mais-que-tudo que não se envolva em processos da "sua" secretaria, deve ser sinal de burrice".
André Barreto referia-se ao que está descrito no despacho do Ministério Público, onde Daniela Rodrigues, então chefe de gabinete do então secretário da Agricultura Humberto Vasconcelos, e companheira do empresário da Dupla DP Humberto Drumond, "assinou a decisão de contratar, escolheu o tipo de procedimento, designou os elementos do júri e indicou as entidades a convidar, no âmbito de procedimento de contratação
pública com o objeto “Aquisição e aplicação de autocolantes informativos e de sinalização relacionados com o COVID-19 para as diversas instalações da SRA”.
Depois de criticar o subsídio de insularidade do público deixando o privado de fora, André Barreto não esconde que fica irritado quando lê que não há indícios: "Indícios, vejo-os e sinto-os há 50 anos", embora esclareça que as eventuais condenações ficam para os tribunais e não na praça pública.
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