Historiador Nelson Veríssimo tem sido uma voz persistente em defesa da recuperação e criticou o facto de ter sido priorizada a construção de uma réplica, no Monte, relativamente ao original, em São Pedro.
O Governo Regional autorizou a distribuição dos encargos orçamentais relativos à empreitada de obra pública de “Recuperação da Capela de São Paulo”, no montante total de 410 mil euros, valor a que acresce o IVA.
Os encargos orçamentais relativos à empreitada dividem-se pelos anos de 2023 e 2024, respetivamente com € 34.166,67 e € 375.833,33.
A recuperação da Capela de São Paulo tem sido abordada em diferentes momentos, nos últimos anos, e as obras já foram anunciadas sem que tenham, na realidade, o efeito prático pretendido relativamente a um património da cidade e para a cidade.
Uma voz que tem insistentemente feito referência a este "abandono" da Capela de São Paulo, tem sido a do hostoriador Nelson Veríssimo, que em dezembro de 2022, abordava a situação na sua página do Facebook, onde comparava com a construção de uma réplica da Capela das Babosas destruída pelo temporal de fevereiro de 2010.
Nelson Veríssimo escrevia, então, que era inaugurada uma réplica enquanto se desprezava a Capela de São Paulo. Lembrou o historiador que "a Capela de São Paulo e o edifício do primeiro hospital da Madeira, que lhe fica adossado, da freguesia de São Pedro, que remontam ao século XV, encontram-se bastante arruinados", sublinhando que "por várias vezes, o Governo tem anunciado o restauro desta capela, imóvel classificado do Património Cultural, chegando o Orçamento da RAM dos últimos anos a incluir verbas para essa intervenção. Também a defunta Comissão dos 600 anos do Descobrimento do Porto Santo e da Madeira apregoou a recuperação da Capela de São Paulo. Mas, até agora, NADA".
O então adiamento era, para Nelson Veríssimo, estranho, tal como a dualidade de critérios. E justificou:
1. A Capela de São Paulo é um edifício do século XV, classificado, que, apesar de arruinado, existe. A Capela das Babosas foi construída no início do século XX e desapareceu com a aluvião.
2. A Capela, que hoje vai ser benzida, é uma réplica da que existiu. Recupera a memória do lugar. Como lugar de culto religioso terá pouco préstimo, pois há a Igreja Paroquial e uma capela no Cemitério. Além do mais, o número de fiéis é cada vez mais reduzido e envelhecido.
Resta-me conclusões, ainda que provisórias:
1. A Junta de Freguesia do Monte e a Paróquia do Monte empenharam-se na construção da réplica e convenceram o Governo Regional a conceder um apoio de 200 mil euros.
2. A Junta de Freguesia de São Pedro e a Paróquia de São Pedro não demonstraram interesse público quanto à Capela de São Paulo. Ou, supostamente, nos corredores do poder não foram ouvidos.
3. O povo do Monte tomou como “sinal” o facto da escultura de Nossa Senhora da Conceição não ter sido destruída pela aluvião e pretende homenageá-la.
4. Neste tempo de predomínio de uma religiosidade popular, o intelectual São Paulo, fundador do Cristianismo, não é admirado pelo povo madeirense, porque não o lê e os clérigos não incentivam a sua leitura. A Senhora da Conceição é da devoção popular.
5. Apesar de residirem perto da Capela de São Paulo, os bispos do Funchal têm visitado mais o Monte do que o Largo de São Paulo, logo desconhecem o valor da Capela aqui existente.
6. Os governantes e autarcas têm visitado mais o Monte do que o Largo de São Paulo, logo desconhecem o valor da Capela aqui existente. Aliás nunca soube da visita de um governante à Capela de São Paulo.
7. O Monte sempre foi fiel ao PSD e, em recompensa, tem a Capela do Largo das Babosas.
8. O nosso Governo é muito devoto da Imaculada Conceição e, discretamente, fará desta Capela o seu templo de eleição.
Lamento esta dualidade de critérios.
Agora que há uma distribuição orçamental definida, parece que a obra vai mesmo ser concretizada até 2024.
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