Outro pormenor interessante deste universo da iniciativa privada e da especulação privada é a preocupação constante de mostrar que ninguém aproveita os poderes instalados. Não é verdade.
Acho que é pacífico o princípio que visa o incentivo à iniciativa privada como forma de dar corpo a um tecido económico forte que, por sua vez, vai proporcionar a criação de postos de trabalho. É pacífico que o investimento privado é importante e que os governos devem ter estabilidade para garantirem as condições que potenciem esse mesmo investimento, de tal modo que esse "motor" seja acompanhado pelos equilíbrios que as sociedades devem ter em mercados livres, que por serem livres, poderão resultar em alguma perversidade. A regulação deve deve funcionar, os governos devem ter atenção aos sinais.
Tudo isto é pacífico. Se na prática funcionar assim, se resultar na dinamização do mercado económico e na melhoria concreta de quem trabalha. Ninguém está a questionar a relevância da iniciativa privada nem está contra quem investe, esta é uma reação habitual de quem não pretende debater o que realmente interessa, o equilíbrio da governabilidade e da sociedade onde devem coexistir as partes do processo. Os empresários fazem as empresas, as empresas vivem e produzem com trabalhadores. Esta articulação nem sempre é entendida num contexto onde o ter se superioriza ao ser, com inevitável perigo de ter sem ser.
Quando se levanta a questão destes equilíbrios, vem logo ao de cima o grupo de interesses, com lugares comuns. A iniciativa privada é extremamente importante, a especulação privada é extremamente perigosa na "teia" que monta à volta dos governos fazendo crer que a circulação da moeda pode ser tão rápida quanto a circulação de números, por acaso pessoas. E depois queixam-se porque confundem números com pessoas e o que pedem mesmo são números num mercado de recrutamento de pessoas. Como facilmente confundem investimento com especulação.
Outro pormenor interessante deste universo da iniciativa privada e da especulação privada é a preocupação constante de mostrar que ninguém aproveita os poderes instalados. Não é verdade. O poder económico tem relações privilegiadas com o poder político, pressiona o poder político e é favorecido em algumas circunstâncias sem que isso se traduza necessariamente numa ilegalidade. Mas é assim mesmo, desde sempre, e a comissão de inquérito às declarações de Sérgio Marques é disso exemplo, Sérgio falou em favorecimentos do Governo e ele próprio foi oferecer a venda do JM ao empresário Luís Miguel Sousa (dito pelo próprio). Se fosse a falar diria o "roto a falar do esfarrapado". E já agora, era bom que Sérgio Marques fosse chamado à comissão, não faz sentido o personagem principal não entrar no "filme". Se não for para fazer de conta...
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