Representante da República fala em "sombras à Democracia", reafirma necessidade do voto dos emigrantes e voto em mobilidade para as eleições regionais. Defende comunicação social credível mas independente do poder político e de outros poderes "não escrutinados".

"As memórias são, como se sabe, moedas para serem usadas no país do futuro”. Foi com esta frase do cardeal madeirense Tolentino Mendonça que o Representante da República aludiu, na cerimónia da entrega de condecorações do Dia de Portugal, ao facto de ser importante "olhar para ontem com a visão no amanhã", apontando a necessidade de acautelar as novas gerações. Um discurso aproveitado por Ireneu Barreto para vários alertas, em várias direções, de caráter político, mas também social, relevando também as Forças Armadas.
O Representante mostrou a sua "inquietação" relativamente ao que apontou como "algumas sombras que ameaçam a nossa Democracia, tão duramente conquistada", para lembrar, com a sua larga experiência de vida, que "só quem nunca viveu em ditadura pode pensar em prescindir do seu direito a escolher e participar nas decisões sobre o nosso futuro, em nome da segurança e da suposta estabilidade sob as ordens de um qualquer líder iluminado".
E foi neste contexto de incentivo à participação que Ireneu Barreto colocou o foco em três temas, muito com a configuração de "alertas", relacionados com o acesso dos cidadãos à informação e ao voto, reforçando a relevância do voto em mobilidade nas Regionais da Madeura, as únicas em que essa solução não éaonda possível: "Se temos hoje um problema de falta de participação cívica, da qual a elevada abstenção eleitoral é uma consequência preocupante, é mister que se dê o direito de votar a todos os cidadãos portugueses que pretendem fazer valer a sua voz e, por limitações de contexto, não o podem fazer.
Ainda não foi desta vez que os nossos emigrantes puderam votar para as eleições regionais, nem que todos os eleitores que o pretendiam conseguiram votar antecipadamente em mobilidade. São temas que merecem um esforço de concretização no futuro que se espera próximo".
Relativamente ao acesso à informação, Ireneu Barreto tem uma opinião interessante que visa, não só a credibilização dos produtos, mas a independência do poder político, um alerta que vai ao encontro dos novos tempos da comunicação. Diz Ireneu que "nestes tempos de excesso de palavras e de imagens, em que todos os factos aparecem como contingentes e a verdade parece estar em permanente neblina, é crucial termos uma Comunicação Social que informe com critérios de rigor, isenção e clareza, para evitar que os cidadãos, e sobretudo os jovens, por entre o ruído e a demagogia, se possam desencantar da Democracia.
Mas, para tanto, é necessário que a sociedade garanta aos órgãos e profissionais da Comunicação Social as condições de independência relativamente ao poder político do momento e a outros poderes e interesses não escrutinados".
O terceiro tema tem a ver com o ambiente do debate político, referindo ser "importante que todos os eleitos privilegiem o debate de ideias, a tolerância pelas diferenças, a transparência dos seus atos e a credibilidade do seu exemplo, sob pena de estarem a promover soluções de demagogia retórica que nunca resolverão os problemas das pessoas.
É fundamental, permitam-me dizê-lo, que todos os titulares dos cargos públicos percebam que o estatuto e o poder que transitoriamente detêm só são legítimos enquanto meios ao serviço do bem comum".
Ireneu debruçou-se, ainda, sobre dois aspetos da vida madeirense, um político, sobre o governo minoritário, manifestando a "esperança e convicção de que será possível, no atual contexto e através de diálogo entre as diversas forças partidárias, conseguir as soluções que permitam manter a nossa Região no caminho da estabilidade política, da paz social e do desenvolvimento; outro social/criminal, a violência doméstica "cujos números continuam a envergonhar uma Região tradicionalmente pacífica como a nossa". E por isso, defende: "Chegou o tempo de, nos casos de violência doméstica, fazer sair o agressor da casa de família e de se deixar de continuar a beneficiar o infrator, prejudicando as vítimas".
Outro flagelo, o do álcool e das drogas, foi igualmente tema de abordagem por parte do Representante: "O alcoolismo e o consumo de drogas, incluindo as chamadas drogas sintéticas, pela degradação da saúde própria, mas também pela insegurança que promovem, carecem de um combate persistente por parte das autoridades e da vigilância e empenho da sociedade civil.
No que respeita ao álcool, pergunto-me se não seria desejável que todas as entidades públicas fossem mais ativas na promoção de campanhas que deixem bem claro que o consumo de bebidas alcoólicas, quando excessivo, não só não é socialmente aceitável, como é um verdadeiro problema de Saúde pública".
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