Já se anda aos tiros neste "cantinho do Céu"; e agora?
- Henrique Correia

- 16 de set. de 2022
- 2 min de leitura
A violência urbana, na Madeira, só é um número para a polícia, para os cidadãos é um problema e bem grave.

Fruto de um conjunto de circunstâncias trazidas pela pandemia, pelo confinamento que deixou a cidade ao abandono sem que houvesse o devido acompanhamento, por prevenção, da parte das polícias e das entidades, que no início observaram o fenómeno como passageiro, que ia passar assim que a vida regressasse à normalidade, vivemos tempos preocupantes, crescendo um pouco todos os dias e todos os dias crescendo no arrojo, na violência, na afronta às polícias e na forma como são abordados os cidadãos nas ruas, por vezes de forma agressiva. Pessoas com alterações de comportamento, estendidos em jardins e praças da cidade, passando pelos cafés com atitudes ostensivamente provocatórias, tudo isto cresceu de forma acelerada. Só fechando os olhos é que não se vê.
A Madeira está menos segura, a cidade do Funchal está menos segura, os cidadãos sentem-se mais inseguros, tantos os episódios de assaltos, de violência, de tráfico de drogas, de consumos à luz do dia obrigando a Câmara a pôr portas nos becos e nas travessas mais complicadas, numa solução de meio limite que não deixa de suscitar dúvidas sobre o que queremos fazer da cidade, se é para resolver mesmo a segurança ou se é para ir pondo portas de São Tiago à Praia Formosa. Se é para irmos todos para o aniversário da polícia como se estivessemos no maior período de segurança da cidade, numa dialética dos números que apenas serve para o Governo "segurar" a policia e a Polícia "segurar" o Governo, então estaremos a adiar uma solução concertada cuja primeira manifestação de sucesso começa precisamente por reconhecer que há o problema e não, sistematicamente, dar a ideia que é apenas impressão das pessoas e que, afinal, os números até dizem que há menos casos registados. Como se as pessoas, no dia a dia, não sentissem o que sentem porque há menos segurança. Não é um sonho, é realidade.
Mas os últimos acontecimentos em São Roque, esta sexta-feira, com tiros numa zona já sinalizada como sensível do ponto de vista do tráfico de droga, acaba por ser a consequência natural de tudo o que vem acontecendo. Que começou com a população sofendo em silêncio, com medo, passou a uma envolvência da própria população e das forças representativas, como a Junta, assumindo a existência de um problema concreto, visível, envolveu até reuniões da PSP com as pessoas pedindo a colaboração destas nas informações à polícia, uma espécie de informadores a quem a polícia não pode garantir segurança, houve intervenção policial, carga policial a "doer", mas depois, como até era de prever por não estar o problema resolvido, estão aí os tiros, os ajustes de contas ou eventuais áreas de domínio, como só ouvíamos relativamente a algumas zonas do País. E agora? O que vem a seguir prevendo-se que fica tudo na mesma? Tiros certeiros? É disso que estão à espera?
Como gostava que a Madeira continuasse a ser, como diziam pais e avós, um "cantinho do Céu".
Mas não se resolve o problema com arrogância, com sobranceria ou com números que só servem para "tapar o sol com a peneira". A violência urbana só é um número para a polícia, para os cidadãos é um problema e bem grave.





Comentários