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Foto do escritorHenrique Correia

Jardim "ignora" o ministro da República que se demitiu por ter perdido poderes



Artigo releva boas relações com o general Lino Miguel e os juízes conselheurosMonteiro Dinis e Ireneu Barreto, mas deixa de fora o Almirante Rodrigues Consolado que disse "não" à retirada de poderes na Revisão Constitucional de 97.



O antigo presidente do Governo Regional Alberto João Jardim desenvolveu hoje, na espaço habitual de opinião no JM, uma explanação curiosa sobre os Ministros da República/Representante, figuras sempre discutíveis no âmbito do processo autonómica e cujas funções sofreram, ao longo dos anos, alterações que visaram, sempre, por parte de Lisboa, de ceder alguma preponderância, mas nunca suficiente para a pura e dura extinção do cargo, como parece haver presentemente uma maior abrangência de opiniões dos partidos nas propostas de revisão Constitucional.

Mas a curiosidade do artigo de AJJ é suscitada por omissão. Jardim nunca foi a favor da figura de Ministro da República, mas acabou por ter, com a maior parte dos detentores do cargo, um relacionamento de cordialidade e sobretudo de cooperação mas matérias mais sensíveis, sendo que a então figura de Ministro da República tinha poderes mais consolidados do que aquelas que hoje são acometidas ao Representante. A omissão de Jardim refere-se ao período em que o Almirante Rodrigues Consolado era o detentor do cargo. Dele, Jardim não fala, refere-se ao general Lino Miguel, aos juízes conselheiros Monteiro Diniz e Ireneu Barreto, mas ignora por completo Rodrigues Consolado, o homem que por coerência de opinião demitiu-se quando perdeu poderes.

Jardim escreve que teve e tem uma relação pessoal e política assente no respeito comLino Miguel, Monteiro Diniz e Ireneu Barreto, assume-se como um federalista e critica uma imposição de Lisboa relativamente a uma ideia centralista e tutelar do Governo da República relativamente às ilhas. Diz mesmo que a fiscalização preventiva das leis e a precedência do Representante sobre os órgãos de Governo Próprio da Região, quando já não tutela os serviços da República na Região, são atribuições sem sentido numa perspetiva da Autonomia sem colocar rm causa a unidade nacional.

Claro que Jardim defende o seu ponto de viata, legitimamente, embora neste particular da fiscalização preventiva das leis, não faria sentido que o fiscalizador não tivesse precedência sobre as entidades a fiscalizar, seria pouco credível. E por isso, só com uma revisão que retire essa fiscalização do cargo ou extinga o próprio cargo, seria possível resolver esse problema apontado pelo Dr. Jardim.

Mas porque razão Alberto João Jardim ignora Rodrigues Consolado. Em primeiro lugar, a "esquadra empresarial" inglesa na Madeira, expressa em grande parte pelo grupo Blandy, que detinha o DIÁRIO, na altura com grande peso, muito maior do que tem hoje, aparecia como um polo de estratégia e negociação políticas. Jardim teve "guerras" com aquele matutino, não extensíveis aos membros dos seus governos, que sempre tiveram boas relações com o DN, algumas muito próximas mesmo, como aliás acontece hoje, que no fundo trouxeram aquele jornal para elevados patamares de popularidade. Jardim aplicava a "cacetada política", por um lado, e os secretários "davam a cenoura" por outro. Jardim sabia disso, pactuou com isso e mais tarde recebeu o "troco" que talvez não esperasse.

Pois bem, o então ministro da República Rodrigues Consolado, que esteve no cargo entre 91 e 97, tinha uma relação muito próxima com os ingleses e exercia o cargo com os plenos poderes consagrados no mesmo. Foi convidado para ministro da República e estava ali com tudo, tinha assento no conselho de ministros e tutelava os serviços centrais na Madeira. A relação com Jardim não era, por isso, a melhor.

De tal modo Consolado era firme nas suas convicções que na revisão Constitucional que entrou em vigor em 1997, demitiu-se do cargo por ter perdido poderes, já não ia ter assento no Conselho de Ministros e a tutela dos serviços seria pontual e por decisão nacional. Rodrigues Consolado já tinha enviado uma carta ao então primeiro-ministro António Guterres manifestando desagrado e avançado com a decisão de se demitir caso a revisão fosse aprovada. E foi.

Curioso, também l, que Consolado chegou a ministro igualmente na sequência da demissão de Lino Miguel imposta por Cavaco Silva, que não gostou de posições assumidas pelo ministro da República sobre a pista do Aeroporto da Madeira.



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