Então presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, não queria a saída de Lino Miguel, mas Cavaco fez um compasso de espera e assim que teve oportunidade mudou mesmo. Entrou Rodrigues Consolado. Está tudo no "Relatório de Combate", o livro de Jardim.
O general Lino Miguel morreu esta semana aos 86 anos de idade. Atrás de si, uma grande carreira e uma passagem de década e meia, sensivelmente, pela Madeira como o primeiro ministro da República, um cargo que como se sabe sempre gerou polémica. Desempenhou as funções entre 1976 e 1991, apanhou pelo meio dois presidentes do Governo Regional, um engenheiro, Jaime Ornelas Camacho, outro advogado, Alberto João Jardim, que viria a governar a Madeira durante mais de 40 anos e que manteve com Lino Miguel uma relação cordial, mesmo nos monentos de maior tensão institucional Região/República.
Mas em relação a Lino Miguel, um general da Força Aérea, que os políticos consideram ter sido determinante no contributo para o Estatuto Político-administrativo da Região, tinha uma boa relação com Jardim, mas não tinha com Cavaco Silva, que assim que viu uma oportunidade procedeu à sua substituição mesmo cometendo a "deselegância" de não o informar antes do processo fechado, como relata Alberto João Jardim no livro "Relatório de Combate".
O antigo presidente do Governo Regional descreve a intenção de Cavaco em substituir Lino Miguel na Madeira, certamente com a anuência do Presidente da República Mário Soares, estávamos em setembro de 1991, sendo que de imediato Jardim se manifestou contra. Em primeiro lugar, estavam eleições nacionais à porta, em outubro, em segundo não era conveniente uma substituição desta natureza por alguém que não conhecia a realidade madeirense. Cavaco recuou só para ganhar tempo, mas Jardim relata que assim que Cavaco foi reempossado, aconteceu a substituição.
Como consta do livro, Jardim soube da intenção/decisão quando se encontrava numa reunião no Comando Militar da Madeira, com Lino Miguel ao seu lado. Jardim foi chamado ao telefone, disseram-lhe logo que era o primeiro-ministro. Lino Miguel passava à história e o senhor que se seguia era Rodrigues Consolado, um homem próximo de Cavaco. Jardim voltou ao lugar e Lino Miguel não perdeu tempo, estava consciente qual o motivo da conversa, suspeitava. Jardim confirmou que ninguém lhe tinha dito nada, Lino Miguel ficou triste, escreve Jardim.
Rodrigues Consolado e Jardim não "morriam de amores". Jardim diz que foi o ministro da República que mais próximas relações manteve com as famílias inglesas no arquipélago. Com as instituições regionais, foi o que manteve as relações menos fáceis.
No momento da morte, é um episódio interessante na vida política do general na Madeira. Uma vida de 15 anos. O resto, as atitudes ficam com quem as pratica e com um certo "modus operandi" de alguma política e de alguns políticos. Uma realidade infelizmente muito atual.
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