Se em condições normais, às vezes nem é suficiente uma boa liderança e um bom projeto na oposição, num enquadramento muito particular de uma Região muito particular, mais difícil se torna com a inexistência de uma vaga de fundo capaz de mobilizar a Região.
Quando Pedro Calado regressou à Madeira depois de ter estado detido em Lisboa para primeiro interrogatório num processo que envolve suspeitas de corrupção, deixou escapar uma mensagem que, no essencial, explica que as relações, na Madeira, têm especificidades próprias, diferentes das que ocorrem no continente, mas dentro do cumprimento da legalidade. Ou seja, tudo muito específico e a tal ponto que as avaliações de casos similares têm explicações e justificações diferentes na Madeira sem configurar classificações atribuídas no continente.
A Região é um meio pequeno, com caraterísticas muito particulares, toda a gente conhece toda a gente e aquilo que parece pode não ser e aquilo que é pode não parecer. Como aliás já tinha sido referido pelo empresário Luís Miguel Sousa aquando da audiência parlamentar na comissão de inquérito sobre eventuais favorecimentos do poder político a empresários, na sequência de um "deslize" do antigo secretário regional quando fez denúncias numa entrevista a um jornalista do DN Lisboa pensando que era em "off". Pois bem, estas especificidades fazem da Madeira um caso de estudo independentemente das investigações que possam ser avaliadas do ponto de vista jurídico. Mas politicamente, a Madeira é um caso muito particular, que tem reflexos na vivência democrática, muito sua, no exercício dos partidos e dos poderes instituídos, quer local quer regional, mas também nas relações, nas cumplicidades, nas amizades, na base do toda a gente se conhece e pode encontrar-se várias vezes no mesmo dia no café mais in ou no restaurante da moda ou pouco depois numa mesa de negociação para obras ou para grandes ou pequenos envolvimentos nas diferentes vertentes da vida regional. E isso passa-se para as campanhas, para as eleições, para uma certa habituação que os quase 50 anos do mesmo regime, com obra feita e medidas políticas, também com problemas e medidas erradas, cria uma rede tentacular de influência que se for bem trabalhada nos bastidores, como tem sido, dá para manter o mesmo sistema como uma "teia" monárquica. Se não houver uma grande "bronca", se for assim uma dúvida que seja mantida no âmbito do inimigo exterior que se quer substituir ao voto, então nunca mais muda nada, sendo que esta mudança não pode ser apurada apenas pelo conceito de mudança, mas sim por se o eleitorado achar que deve alterar. E o eleitorado da Madeira não muda.
Mas esta tendência do eleitorado, sendo obviamente responsabilidade do próprio eleitorado, que vota livremente e largamente no PSD, tem as tais especificidades de meio pequeno que não potenciam uma mudança substancial e o melhor que a oposição conseguiu foi o resultado de Paulo Cafôfo em 2019, pelo PS, ou então este protesto/revolta que leva um partido sem trabalho feito na Região, o CHEGA, a eleger um deputado que, por acaso, até já foi do PSD. É isto, a Madeira "tão tua", mensagem utilizada pelo Turismo, que se adapta perfeitamente à política que faz a Madeira "tão própria". Não é que o fenómeno CHEGA, já é mais do que isso mas sem sustentação de quadros, sem correspondência com os números da representatividade (grande título do jornal i para se referir a André Ventura "O homem das 48 cabeças"), seja exclusivo da Madeira, mas aqui enquadra-se nas especificidades, estruturais e conjunturais. Respira-se sistema por todos os lados e os protestos são sempre no sentido de não alterar a "vidinha". E com isso, algumas injustiças como aquela que o eleitorado cometeu com o JPP, um partido que até tem feito a melhor oposição ao Governo, incisivo, tem trabalho desenvolvido, na Assembleia e na Câmara de Santa Cruz, mas não mereceu confiança do número suficiente de eleitores para eleger Filipe Sousa. É a Democracia a funcionar, nada a dizer ou colocar em causa na Madeira "tão própria".
Neste contexto das particularidades, está o PS, a eterna promessa, que "queima" líderes como quem muda de camisa. Num quadro difícil, muito específico como é o da Madeira, se o PS não consegue unir-se, organizar-se e ser alternativa convincente, não vai passar de promessas nos próximos anos.
Se em condições normais, às vezes nem é suficiente uma boa liderança e um bom projeto, num enquadramento muito particular de uma Região muito particular, mais difícil se torna com a inexistência de uma vaga de fundo capaz de mobilizar a Região, mais do que o partido. E ao PS Madeira falta isso, tem faltado isso. E ainda por cima não tem tempo para ser muito diferente até às eleições regionais antecipadas se for esse o entendimento do Presidente da República, saber-se-á a 25 de março. Se não houver um fôlego qualquer da oposição que desperte o eleitorado para eventual alternativa que vise a mudança e não a revolta, então a alternativa ao PSD será mesmo o PSD.
O problema é que a Madeira "tão própria" também é aplicável aos partidos. Desmontar a máquina não é fácil...
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