Montenegro pode reunir apoios de antigos líderes como Cavaco e Passos Coelho, mas não parecer que está a pedir ajuda ao avô ou ao padrinho por não saber o que faz com esta oportunidade.
Não é pela coligação em si, não é pelo acordo pré eleitoral com o CDS, que em termos ideológicos tem com o PSD algumas afinidades mesmo num contexto em que as ideologias valem zero. Não é por isso e até é mais honesto, para o eleitorado, saber que vai votar numa coligação em vez de votar num partido e este sentir legitimidade para fazer acordos com parceiros que o eleitorado, se soubesse antecipadamente, poderia não ratificar com o seu voto. Não é por nada disso, é mesmo por aquilo que está subjacente a este entendimento PSD/CDS, em vigor na Madeira, e aquilo que dá a entender a decisão de Luís Montenegro.
Em primeiro lugar, num momento de grande fragilidade socialista, que além dos problemas recentes que levaram à demissão de António Costa, tem um líder ainda a adaptar-se ao cargo, o PSD não se sente confiante para ir sozinho a votos. E se não sente a confiança agora, com o PS esfrangalhado, vai sentir quando? Se não confia na sua liderança, vai confiar em quê e em quem?
Mas o PSD não confia. Não confia o PSD nem confia Luís Montenegro, que realmente não tem carisma mas devia aproveitar agora para levar o o partido à vitória e, na altura, então sim, fazia os acordos que considerasse oportunos para governar. Mas não, Montenegro só demonstra fragilidades e todos os dias agarra-se ao passado. Primeiro o nome "Aliança Democrática", do tempo de Sá Carneiro, que foi um líder mais carismático, que infelizmente teve pouco tempo de liderança devido ao acidentes aéreo, em Camarate, que nunca foi explicado e que também vitimou mortalmente Adelino Amaro da Costa, do CDS.
Naturalmente, Sá Carneiro é uma inspiração para os líderes do PSD. Com respeito, com orgulho. Mas deve ficar por aí. E Montenegro pode ter a sua identidade, o seu projeto, quem sabe inspirado por Sá Carneiro, mas estamos num tempo novo, com nomes novos, não há líderes iguais e embora a AD traga boas memórias, pode ser apontada pelo acordo e não pelo nome. Da mesma forma que Montenegro pode reunir apoios de antigos líderes como Cavaco e Passos Coelho, mas não parecer que está a pedir ajuda ao avô ou ao padrinho por não saber o que faz com esta oportunidade que lhe caiu no colo. Até porque os conselhos dos avós são sempre muito úteis, podem ser reunidos em tertúlias, mas já se sabe que qualquer avô tem aquela mania que "no meu tempo é que era". E Cavavo até disse que em Fevereiro já tinha pensado, depois de muito estudar, neste desfecho político para o país. Deixem-se destas figuras e deixem Montenegro fazer a sua estratégia e seguir o caminho de uma nova era do PSD. São assim as lideranças. Depois, ou têm ou não têm.
Se for para Passos Coelho vir dar apoio e depois Montenegro ter quase que formar uma comissão para explicar aos portugueses a razão de Passos ter retirado subsídios e prometido devolver algum que nunca devolveu, mesmo que fosse para recuperar o País, então é melhor dispensar o apoio. Só o trabalho que vai dar e os votos que pode perder, é matéria para os adjuntos de Montenegro colocarem Passos na "sombra".
É verdade que Montenegro não é um grande líder, mas é o líder do PSD e deve partir de si próprio a mensagem de confiança. Até porque as possibilidades de não conseguir maioria absoluta com o CDS são grandes e se isso acontecer será forçado a novas negociações, sendo que a única alternativa que lhe pode aparecer poderá ser o Chega, com toda a sensibilidade que isso pode implicar para esta frágil liderança de Montenegro. Seria mais um momento difícil para o líder do PSD.
Mas é o que é e Luís Montenegro preferiu fazer esta Aliança Democrática com um partido que nem está no Parlamento e não se sabe bem quanto vale, se será mesmo uma mais valia. Um acordo que, até prova em contrário, tirada em 10 de março, data das eleições nacionais antecipadas, parece servir apenas ao CDS que, por essa via, regressa ao Parlamento.
Vamos ver o que dá este "presente de Natal" de Montenegro. Que não seja um "presente envenenado".
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