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Foto do escritorHenrique Correia

Não há nada como o Natal...



Parece que a vida pára como se houvesse um compasso de espera porque vou ali e já venho e só por ter ido ali, com toda a gente com quem quero estar, parece que a cada passo é a magia e o respirar é um sonho que não cabe dentro.



Para mim, não há nada como o Natal. Podem vir com a melhor coisa, o Natal é o Natal, é único. Não sei explicar. Talvez não saiba mesmo, há coisas da vida que não sabemos explicar, mas pode ser que nem queira saber como explicar, as explicações esbarram nos sonhos e eu este mês quero caminho livre enquanto não chega janeiro e, como a canção do Rui Veloso, parece que vem um "frio" de "rachar" para a gente, dizem que para a classe média, também já quase não sei onde estou e a que classe pertenço. E para dizer a verdade, o meu lado infantil e natalício não quer saber.

Não quero pensar nisso, acredito no Pai Natal. É um mês e "negócio" fechado. A árvore montada dia 1 para não perder nada, ver as luzes com aquele brilho nos olhos que saltam ao ritmo do coração, a ginja no copo de chocolate, não sei se pela ginja se pelo chocolate, o licor e os doces da "Festa" enquanto o olhar vagueia com vista do sofá para a "obra" feita e onde cabe tudo no passado e no presente: no passado a memória de um táxi ainda a preto e verde que um dia, ao chegar a casa depois da Missa do Galo que nunca mais acabava, fui de corrida buscar à lareira, na altura havia lareira, com um medo de morrer não fosse encontrar o Pai Natal atrasado em fuga; no presente, com dúvida se o Ronaldo falou com o coreano ou se foi com o Fernando Santos. Mas é Natal e logo vem à memória o que o miúdo fez por nós todos e ainda salta como se tivesse vinte anos.

Parece que a vida pára como se houvesse um compasso de espera porque vou ali e já venho e só por ter ido ali, com toda a gente com quem quero estar, parece que a cada passo é a magia e o respirar é um sonho que não cabe dentro, é assim aquela sensação da paixão, onde o coração de bater descompassado leva-nos não importa para onde, desde que seja para ali.

Acho que sou um pouco irracional nos sentimentos de Natal, tem a ver com a dimensão interior que se dá e que é amplificada, no fundo, pelos lados da inocência e da inconsciência, acho que se ligam. E aos 60 anos dá um jeitão. Quem já tem sabe como é, quem não tem há-de saber mas já fica a "dica".

Já repararam que este texto é, também ele, do mundo maravilhoso. Dos presentes do Pai Natal, das gentes nas ruas com aquele passo apressado porque o dia de festa não espera, ainda falta uma manhã de Páscoa para pôr numa mesa ali do canto, mas as que se encontra tem meias folhas caídas, há sempre aquela sensação que se devia ter comprado mais cedo. É também do Feliz Natal que dizemos só porque sim, porque é a Festa muito nossa e os egoísmos ficam "pendurados" no resto do ano.

A inflação, a insegurança no Funchal, os consumos de drogas, os sem abrigo, a execução do PRR cujos níveis são difíceis de cumprir, o Costa a continuar metendo famílias no Governo como quem muda de camisa, o luxo da construção que daqui a uns dias empurra os jovens para o Poiso, a sala que Albuquerque escolheu mas zurziu na cabeça de alguém porque ficou gente de pé, a dificuldade para Sérgio Gonçalves chegar lá e estar a pôr Albuquerque nas "nuvens" com as sondagens, Jardim a debitar opiniões que ficamos de "boca aberta" quando diz que o progresso está na Educação e não nas obras. Pois está. Tudo isto "chuta-se" para canto até ao Dia de Reis. Logo mais pensa-se em 2023, onde dizem que será preciso magia para viver. Eu já estou a ensaiar.

Como somos muito mais felizes no mundo da fantasia. Que só o Natal nos dá...

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