O eleitorado, este eleitorado, como de resto acontece nas eleições para a Assembleia da República, mal conhece os deputados, em alguns casos não sabe mesmo quem são, elege pelo líder.
Já estamos no ano das eleições regionais, que devem acontecer lá para o último trimestre. Um ano muito sensível, um ano de muitas estratégias, um ano de muitas colocações, que como se sabe representam um dos principais problemas para os líderes políticos, como colocar os quadros das estruturas partidárias e também como satisfazer os candidatos a quadros, que habitualmente são muitos dependendo se estamos a falar de partidos do poder ou de oposição. Do poder, é mais fácil porque há mais lugares diaponiveis, mas também há mais candidatos. De qualquer modo, muito complicado para quem é líder.
Será, por isso, um ano de grande nervosismo interno nos partidos, serão muitas as tentativas de agradar ao líder. É o ano de dizer mata quando o líder diz esfola, é o ano de uma procura incessante pelo servilismo muito fértil em política, sobretudo num meio pequeno como o nosso onde o governo é o principal empregador e quando não pode trata de "empregar" os seus meios para colocar no mundo empresarial, onde por sua vez o o governo também está bem colocado. Aliás, as colocações também se aplicam aos empresários se esse for o caminho, e normalmente é, para tirar dividendos, medir forças e ganhar obras. Ao invés, ao governo interessa ganhar influência, ter apoios e votos suficientes para vencer as eleições. Digamos que as colocações são determinantes para tudo, uma espécie de "uma mão lava a outra".
Mas as colocações não se ficam, apenas, na empregabilidade desencadeada pelo próprio governo, um expediente que já vem de 2022 e com um final de ano muito ativo nas publicações do jornal oficial, o Joram. As colocações serão importantes, também, nas listas que os diferentes partidos vão apresentar ao eleitorado, que como se sabe não liga nada a quem vai na lista mas a que partido pertence e ao líder. Não há conhecimento político para ver as eleições regionais como a eleição de uma Assembleia e da sua composição, só depois sairá o Governo. Não, o eleitorado, este eleitorado, como de resto acontece nas eleições para a Assembleia da República, mal conhece os deputados, em alguns casos não sabe mesmo quem são, elege pelo líder. Durante decadas, Alberto João Jardim ganhou as eleições mesmo quando os votos eram para a presidência da República e uma grande parte do eleitorado nem sabia quem eram os candidatos.
Mas vamos às colocações nas listas. O PSD será o patido com o maior desafio pela frente. Por duas razões: uma delas interna, que é a de colocar o grupo de suporte em lugar elegivel, sendo que se trata de um grupo grande ; a outra é garantir os lugares do outro partido da coligação, o CDS, que anda na expetativa, mínima, de colocar dois nomes, que por lógica serão Rui Barreto e José Manuel Rodrigues, em posições pelo menos consentâneas com a lealdade demonstrada na governação. E isso "paga-se".
O grande problema desta dialética Albuquerque/Barreto ainda estará para vir. E como já aqui escrevi, o problema nem será Rui Barreto, será mesmo José Manuel Rodrigues e o cargo de presidente da Assembleia, sabendo-se que existe, no PSD-M, uma grande pressão interna para que o candidato a liderar o Parlamento seja um nome do PSD, ainda por cima com as sondagens revelando que o peso do CDS é menor porque a previsibilidade de votação do PSD é maior, relativamente a 2019. Será interessante seguir esta "negociação", sabendo-se que José Manuel Rodrigues deixou de ter a "ameaça" de há quatro anos, mas tem trabalho feito que pode condicionar Miguel Albuquerque, em caso de vitória, neste processo de escolha do candidato a líder da Assembleia.
Não será de menor relevância as colocações no Partido Socialista. Não tem lugares para oferecer porque não é governo, mas também tem lista de deputados para fazer e grupos de influência para satisfazer, sendo que neste particular, Sérgio Gonçalves estará mais preocupado em recuperar um caudal de popularidade que ainda não tem para depois poder "jogar" com os lugares e com as tendências internas. Por um lado, quer ganhar as eleições, um desejo legítimo de quem concorre às eleições com aspirações de destronar o PSD/CDS. Mas por outro, se não conseguir ganhar o impulso vitorioso, há um objetivo de não perder deputados para outras forças políticas que possam vir a ter representação parlamentar. Não perder lugares pode ser, também, um grande objetivo do PS-M.
Os restantes partidos não têm estes problemas de lugares, não têm muito para oferecer e ainda estão numa fase menos complicada a esse nível. O JPP pode aumentar a sua representatividade, o que poderá ser um "prémio" para a ação incisiva de oposição ao Governo, por vezes mais acutilante do que o próprio PS.
Pelas sondagens, Chega e Iniciativa Liberal podem vir a ter representação parlamentar. Não surpreende. O Chega pelo protesto, a IL pela ação política que vem desenvolvendo.
Quanto ao PCP, uma dúvida: conseguirá segurar o eleitorado?
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