"Vamos permitir que este Governo e o partido que o sustenta continuem a tratar a Madeira como a sua propriedade privada? Que usa e abusa a seu belo prazer? E onde está um viveiro de amiguismo, compadrio, arrogância, nepotismo e corrupção? Não, não vamos".
"Aquilo de que vos falo é da oportunidade que hoje temos de ficar do lado certo da História..."
O que o CHEGA fez relativamente ao Programa de Governo já se sabe, absteve-se. Sabe-se, também, que três dos quatro deputados abstiveram-se e a deputada Magna Costa votou contra. E sabe-se o que o líder do CHEGA Madeira disse na intervenção final, uma posição marcada pelas fortes críticas ao Governo e a Miguel Albuquerque. Quem ouviu Miguel Castro, ninguém diria que queria ficar no "lado certo da história", como disse quando falou, através de uma abstenção, como fez quando votou.
Para memória futura e para o"lado estranho" de ficar na História, aqui publicamos, praticamente na íntegra, a intervenção do líder do CHEGA Madeira no encerramento do debate sobre o Programa de Governo.
Uma abstenção justificada com argumento de voto contra: "Vamos permitir que este Governo e o partido que o sustenta continuem a tratar a Madeira como a sua propriedade privada? Que usam e abusam a seu belo prazer? E onde está um viveiro de amiguismo, compadrio, arrogância, nepotismo e corrupção? Não, não vamos".
Confira a intervenção. Importante para a própria História do Parlamento:
"Pela segunda vez em menos de um mês, debatemos um Programa que nos foi trazido perante esta casa por um Governo que hoje teve a oportunidade de sair renovado na História da Região Autónoma da Madeira. Estamos perante um Governo que está claramente desgastado, descredibilizado, um governo que está esgotado na sua essência.
Porém, em prol dos madeirenses, a teimosia de derrubar um Governo sem chama, sem norte, e cuja única motivação é manter o seu domínio político e através do mesmo encobrir, esconder e garantir a sobrevivência do seu líder, não será solução. Como muitas vezes na vida, temos que analisar situações e retroceder um passo para dar dois em frente. Custe o que custar, seja lá o preço que for. Este é, em suma, um Governo desesperado, mas há que tomar as rédeas e ter a coragem de lutar pelos madeirenses.
Pensemos nas muitas famílias que trabalham sol a sol, mas têm sido lançadas na pobreza. Pensemos nos jovens que lutam por uma vida que vá além do salário mínimo, que querem se emancipar da casa dos pais mas que não conseguem. E que querem começa uma vida adulta mas que estão anarrados. Pensemos nos idosos que têm que escolher entre comprar comida e comprar medicamentos na farmácia, pois o seu dinheiro não estica. Pensemos ainda nos bombeiros, nos polícias, nos madeirenses que pagam os seus impostos e cumprem com as suas obrigações, e que vêem os seus impostos usados em obras sem sentido, em luxos pessoais dos governantes, em adjudicações mal explicadas e muitas, muitas histórias mal contadas, todas elas pagas pelos mesmos de sempre, os cidadãos desta Região.
A história deste Programa não pode ser separada da história deste Governo. Sejamos sérios ma avaliação do elenco que nos trouxe este documento, bem como de todos os que têm acompanhado desde 2015. A memória não pode ser curta e o olhar não pode ser benevolente. Afinal, estamos a falar da causa pública, estamos a falar do nome, dos valores do serviço ao bem comum, dos que nos devem orientar a todos e não apenas a alguns.
A Madeira de hoje está melhor do que em 2015? Os madeirenses estão mais felizes, mais ricos, mais prósperos e mais donos da sua terra? Os madeirenses estão mais identificados com o seu Governo e com a causa pública? A resposta é não.
Sabemos muito bem que o Governo Regional e a sua liderança não estão confortáveis com este olhar retrosoetivo sobre os últimos nove anos de governação PSD. E os resultados eleitorais assim o têm dito. Exatamente por isso, este Governo tem recorrido a todas as ferramentas para continuar tudo como está. As ameaças de crises gravíssimas, que não aconteceram nem vão acontecer, as intimidações de cenários dantescos, que não aconteceram nem vão acontecer. As desculpas que o PRR vai ser perdido quando sabem muito bem que isso não está em causa. As pressões, as desculpas e sobretudo o medo, o muito medo que se tem incutido na população. E não é só o medo para que as pessoas pressionem os deputados desta casa a fazerem o que o PSD quer que façamos. Mas o medo do PSD em prestar contas.
Vamos ceder? Vamos virar as costas? Não, de todo. Vamos fazer aquilo que os madeirenses mais desejam e mais esperam, que tenhamos um virar de página na nossa terra.
Porventura, na história desta Assembleia, nunca foi tão tenso o ambiente que se vive. Nunca foram tão altas as expectativas e nunca foi tão claro o caminho. Não estamos a falar deste programa onde o Governo promete fazer tudo o que não fez antes, diz que agora é que vai ser. Agora, em desespero, o Governo vai dar até aquilo que há bem pouco tempo disse que era impossível concretizar. Como algumas propostas do CHEGA, exemplo do gabinete para a transparência, prevenção e combate à corrupção e uma auditoria às contas da Região por uma entidade independente.
Aquilo de que vos falo é da oportunidade que hoje temos de ficar do lado certo da História. Vamos permitir que este Governo e o partido que o sustenta continuem a tratar a Madeira como a sua propriedade privada? Que usam e abusam a seu belo prazer? E onde está um viveiro de amiguismo, compadrio, arrogância, nepotismo e corrupção? Não, não vamos.
Vai, senhor presidente, reconhecer publicamente que em caso de condenação, pelo Ministério Público, renunciará a todos os cargos executivos que ocupa? Da sua resposta, senhor presidente, está dependente a votação deste Programa de Governo. Está disponível para o levantamento da sua imunidade? Os madeirenses precisam da sua resposta.
Hoje, com a nossa determinação e coragem podemos mudar a Madeira. Os madeirenses não nos perdoarão se jogarmos pela janela a hipótese da viragem da História da nossa Região".
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