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Foto do escritorHenrique Correia

O novo perfil do turista obriga a "repensar" como recebê-lo...



É preciso que haja uma reflexão. Sem comissões de estudo, uma reflexão rápida, eficaz, que possa tornar agradável esta coexistência residente/turista, evitando os constrangimentos que têm ocorrido




Como diz o povo, o que se possa refletir sobre o assunto turismo, de alerta para as entidades públicas sobre novas realidades, será como "ensinar o Pai Nosso ao senhor vigário". Todos sabem muito bem o que está a acontecer, os novos tempos, as novas realidades, o novo perfil de turista, o aumento considerável do fluxo, a adaptação mais lenta do destino a estes novos tempos. E tal como o senhor Vigário pode ter alguns lapsos no Pai Nosso, também os políticos estão ainda a ver como vão reagir a estes constrangimentos e acabam por decidir um pouco por "navegação à vista", conforme vão aparecendo os problemas.

É preciso que haja uma reflexão. Sem comissões de estudo, uma reflexão rápida, eficaz, que possa tornar agradável esta coexistência residente/turista, evitando os constrangimentos que têm ocorrido e tornando possível uma vivência de qualidade a quem aqui vive e trabalha e a quem visita e quer beneficiar de tudo o que a Madeira tem de bom sem que isso seja um pesadelo.

Não é novo o "boom" turístico dos grandes destinos mundiais, há filas para tudo, o turista também espera. O que é novo é para a Madeira, onde o novo perfil do turista mudou e as condições de oferta ainda estão a "apalpar o terreno" dessa nova realidade. Os pontos turísticos estão cheios, com um ordenamento desregrado precisamente por ninguém estar à espera e por não haver uma ideia de como poderemos preparar o futuro sem afastar o turismo e sem tornar asfixiante a vida dos residentes, que começam já a evitar certas deslocações na sua própria terra.

Era uma questão de tempo para que a "asfixia" dos pontos turísticos passasse para este "atrofiamento" dos parques de estacionamento, também eles pouco preparados para esta procura através de uma estratégia que não prejudicasse os clientes de todo o ano, cujos compromissos têm a ver com trabalho e não com férias onde as esperas são mais toleráveis.

O presidente da Câmara do Funchal tocou num ponto essencial no discurso do Dia da Cidade: a mobilidade. E de facto, esse é um problema que não pode esperar, ainda que uma solução estruturante possa levar tempo e ao ritmo da política, aliado à burocracia, dá tempo a agravar o problema. Mas é preciso atuar na mobilidade da cidade, atuar rápido e bem. Pedro Calado falou num número impressionante: a média diária de circulação de pessoas na cidade do Funchal, anda pelas 200 mil, entre residentes e turistas. Isto ajuda a perceber a urgência. Que obviamente nunca vai acontecer com a celeridade necessária.

O vereador Bruno Pereira pronunciou-se sobre os parques esgotados. Aponta as obras e o estacionamento irregular como razões dessa nova realidade do trânsito menos fluente. Acontece que essas são apenas uma parte do problema, mas nem são as mais relevantes e talvez sejam as de mais fácil solução. As obras têm uma estratégia, é só melhorar a planificação; o estacionamento irregular é só cumprir o que se prometeu recentemente, fiscalizar e autuar. Não é ameaçar maior fiscalização, por exemplo, nas ruas 5 de Outubro e 31 de Janeiro, e deixar tudo na mesma. Não é permitir o constante engarrafamento de trânsito junto ao Hospital da Luz e centro de hemodiálise, na 5 de Outubro, sem que ocorra uma outra solução para permitir a fluidez de circulação. E há mais exemplos.

O problema de fundo não está apenas nas obras e no estacionamento irregular. Passa, sim, pelas mudancas estruturantes. O turismo da Madeira mudou. O perfil do turista também. Falta mudar a forma como vamos receber esta dimensão de turistas, tornar os locais turísticos aprazíveis e não sufocantes, permitir a coexistência agradável, ainda que movimentada e próprio de um destino turístico, por forma a permitir a sobrevivência futura do destino, permitindo viver a quem aqui vive, permitindo voltar a quem nos visita.

Se não houver uma intervenção efetiva, que não de intenções, o turismo da Madeira pode sofrer a médio/longo prazo. E os madeirenses também.

O Turismo é importante para a Madeira. Não vamos permitir que o desejado se torne aborrecido.

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