Momento de "fogo amigo", em 2001, na então (só) aparente "guerra" entre Jardim e o matutino, trouxe especialista à Madeira para reivindicar um acesso de madeirenses ao Palácio, que já existia desde 1995.

A luta pela posse do Palácio de São Lourenço já vem de longe. O património do Estado, comportando uma parte civil e outra militar, tem funcionado, ciclicamente, como "arma" de arremesso político nesta dialética de contencioso das Autonomias com a República, sendo que o espaço, na visão do contexto autonómico, representa como que uma espécie de "tutela" da República face à Região Autónoma, traduzida pela figura do Representante consagrada na Constituição da República, cargo que no caso presente é ocupado pelo madeirense natural da Ponta do Sol Ireneu Barreto.
Como já foi referenciado neste espaço, a alusão recentemente feita pelo deputado Carlos Rodrigues, do PSD Madeira, defendendo que o Palácio de São Lourenço, entre outros edifícios do Estado, deveria passar para a Região e funcionar como sede do Governo Regional, foi como o "ressuscitar" de uma guerra antiga, recebendo de imediato um apoio do antigo presidente do Governo Regional Alberto João Jardim, que durante as décadas de mandato sempre manteve uma duplicidade de atitude para com os representantes da República, primeiro como ministros e depois como Representantes.
O Palácio tem história, a Autonomia também. E Jardim tem história nos dois "palcos" destas lutas, mantendo com os detentores do cargo diferentes relacionamentos conforme as conjunturas, desde declarações de grande colaboração a declarações visando a extinção do cargo. Lino Miguel, Rodrigues Consolado, Monteiro Dinis e Ireneu Barreto foram os "ocupantes" do espaço que a Região sempre quis.
De tal modo que vem à memória, que é coisa que em política se escapa como areia entre os dedos, a campanha paga por Jardim ao Diario de Notícias da Madeira, em 2001, com um slogan que dizem ter sido inspirado numa declaração, em recato de cerimónia privada, de Monteiro Dinis, por quem Jardim não nutria grande simpatia pública, embora reconhecesse valor nos contactos mais restritos, o que Jardim sabia fazer muito bem.
O slogan "O Palácio é Meu, é Teu, é Nosso" mobilizou Jardim e o seu aparente "inimigo de estimação", o Diário, numa campanha que, a valores da época, custou 40 mil contos aos cofres da Região. O euro foi aprovado em 1999 mas oficialmente só em 2002 saíram os escudos.
Podia até parecer estranho face ao facto de estarmos, aparentemente, em presença de um "ajuste" ao Diário que acusava Jardim de ter um jornal seu, o Jornal da Madeira, que era visto como o jornal do Governo, submisso, ao mesmo tempo que o Diário, que ao longo da sua história sempre foi um diário do sistema - e nessa altura também era, sem se ver - era visto como o baluarte da liberdade de expressão. E Jardim sabia que pagando no Diário, onde mantinha boas relações, dava mais credibilidade. E pagou para isso.
A campanha foi intensa, foi contratado um profissional em moda na altura, Edson Athayde, que trabalhava com o grupo Lusomundo, envolvendo o Diário de Notícias de Lisboa, com quem o Diário tinha sinergias.
Mas o argumento, subjacente, que o Palácio estava inacessível aos madeirenses, o que era incompreensível para um património daquela importância, caiu por terra antes de se levantar. O problema é que o Palácio começou a ter as portas abertas desde 1995 e parece que só se soube disso com o processo em andamento. Era tarde para travar e a campanha andou mesmo para a frente com esta parceria Jardim/Diário num dos muitos momentos em que o matutino e a Quinta Vigia mantinham uma "guerra fria" com um "fogo amigo".
E passados estes anos, o Palácio ainda está lá. A memória também. Para quem a tem...
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