A comissão poderia ter sido inspirada na primeira Assembleia Regional, em 1976, com elementos dos partidos eleitos na altura, no caso o então PPD, o PS, o CDS e a UDP.
O Governo Regional é livre de formar as comissões que muito bem entender, governa e por isso pode fazê-lo como e quando quiser sem que isso configure qualquer ilegalidade, partindo do princípio, que parece fazer "escola" que tudo está correto se não for ilegal, o que remete o bom senso e a ética para o fundo do baú da Democracia, que vem de 1974, e da Autonomia, que vem de 1976. Assim, com esta clareza, temos votos, temos governos e temos decisões. O povo é quem mais ordena, como se disse em abril, o povo anda desordenado com esta Democracia mas pouca, como se vê hoje em muitas ocasiões.
No âmbito destas decisões, o Governo Regional decidiu constituir uma Estrutura de Missão com uma Comissão Executiva que promove e organiza as comemorações do 50.º aniversário da Autonomia da Região Autónoma da Madeira. O despacho é do secretário da Educação, o presidente da Comissão é Cunha e Silva, foi vice presidente de Jardim, e oito comissários executivos, todos do PSD Madeira e alguns com cargos efetivos de governação, designadamente Medeiros Gaspar, Micaela Freitas, Vânia Jesus, Rui Gonçalves, David Gomes. Andreia Jardim, Nuno Olim e Nuno Texeira de Jesus completam o grupo de trabalho.
Torna-se evidente que o Governo pretendeu fazer desta Comissão uma espécie de "prémio de consolação" ao antigo vice de Jardim depois de colocá-lo numa posição embaraçosa de ter a presidência da Assembleia na mão e depois ser ultrapassado, pela direita e pela esquerda, com a quebra de compromisso em virtude de um acordo maior de garantir o lugar a José Manuel Rodrigues. O que nem era novo, já tinha acontecido com Tranquada Gomes. Cunha e Silva pensava que a situação seria diferente e como concorreu para ser presidente da Assembleia, acabou por nem assumir o lugar de deputado.
Mas mesmo de consolação, não se pode dizer que é uma escolha fora de contexto. Cunha e Silva tem capacidade para organizar as comemorações dos 50 anos da Autonomia, se houver dinheiro como houve nas comemorações da Madeira Região Europeia, tudo sairá em grande estilo e se calhar teremos espetáculos únicos.
Não é um problema da figura escolhida, tem carreira política, tem currículo na Autonomia, tem alguns anticorpos internos e externos, é verdade, muito por fruto das sociedades de desenvolvimento com algumas obras de má memória, mas pode liderar esta comissão. Mas a verdade é que o mesmo já não se pode dizer dos oito comissários, ainda que, também aqui, não estejam em causa as pessaos escolhidas, terão todas os seus méritos, mas a questão é muito mais elevada do que isso estando a Autonomia no centro das comemorações. Podiam lá estar todos se a comissão tivesse doze ou quinze e representasse, realmente, a Autonomia do povo madeirense, da política madeirense, que tem uma participação grande do PSD, mas não única. Para não falar na sociedade civil, já nem se fala nisso.
Esta chamada Estrutura de Missão deveria, efetivamente, representar a Autonomia da Madeira, que vai além do PSD-M, que tem o povo madeirense no centro dessa conquista, deveria pois expressar esse universo, talvez que se houvesse ponderação, bom senso e menor cegueira político partidária, mas sobretudo se houvesse grandeza de partido de governação, alguém poderia ter aconselhado a uma constituição mais adequada à lógica e à dimensão do que se pretende comemorar. Por exemplo, a comissão poderia ter sido inspirada na primeira Assembleia Regional, em 1976, com elementos dos partidos eleitos na altura, no caso o então PPD, o PS, o CDS e a UDP.
Querem maior exemplo para comemorar os 50 anos da Autonomia sem ninguém parecer que se apodera da Autonomia como propriedade partidária?
Fica, pois, aqui, essa composição, para eventuais falhas de memória e de história política da Madeira.
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