Padre José Luís: "Há insegurança e medo; não sendo feito nada é o abismo"
- Henrique Correia
- 19 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
O pároco de São Roque admite que os números não sejam mentirosos, mas a mentira reside no método utilizado para chegar a eles.

O padre José Luís Rodrigues, pároco de São Roque, sabe muito da realidade social da Região, sabe muito do que se passa de insegurança na Paróquia que dirige e que tem sido notícia pelos focos de consumo e tráfico de droga, com a presença constante da PSP e apelos das autoridades locais para que haja uma intervenção mais enérgica e consequente face a este flagelo, que aumenta em contextos de crise.
Num escrito publicado na sua página do Facebook, o padre José Luís Rodrigues escreve que "a insegurança também é medo", respondendo a quem se gere pelos números sem ter em conta outros factores que determinam os sentimentos de insegurança na população.
O padre refere que "só quem anda distraído ou se alienou da realidade é que não se dá conta da insegurança que se assiste por todos os cantos da ilha da Madeira.
Acho que não exagero, se ao invés de utilizar a palavra insegurança, devamos utilizar a palavra medo. O medo tomou conta de tanta gente. O medo de ser assaltado a qualquer hora do dia ou da noite. Não são raras as notícias que nos dão conta da intrusão de meliantes nas habitações enquanto as pessoas dormem. E no meio da desgraça, está-se a vincular a ideia de que quem defende o que é seu, é que é o criminoso, está sujeito a ter que andar a perder tempo e dinheiro nos inefáveis emaranhados das malhas da justiça, sem que não esteja livre de ser preso ou ter que pagar indemnizações aos assaltantes.m".
O padre José Luís Rodrigues sublinha que
"as estatísticas são tramadas. Mais tramada é a metodologia como se chega aos resultados e a sua consequente leitura.
Por exemplo, o que se passa sobre a pobreza na Madeira. Olhando as estatísticas, quase que os madeirenses em geral são ricos e abastados, descendo à realidade nua e crua, a pobreza está sempre presente numa larga maioria das famílias madeirenses. E a par desse eldorado estatístico, particularmente pintado pelos governantes do momento, não cessa a mendicância, a proliferação de instituições de caridade social e os orçamentos públicos de ano para ano aumentam a fasquia em milhões para socorrer os pobres. Em que ficamos?
Com a insegurança e a violência passa-se o mesmo. Alguns andam a recorrer às estatísticas para justificarem que somos das regiões mais seguras do país e que a violência é residual. Admito que os números não sejam mentirosos, mas a mentira reside no método utilizado para chegar a eles. É fácil manipular dados e números para se chegam à beleza que se pretende e com discursos de verbo fácil chegar a conclusões distantes da realidade concreta".
Para o pároco de São Roque "nla Madeira há insegurança e muita. As pessoas sentem-se inseguras, com medo estampado no rosto e na alma nas suas próprias casas, não se sentem à vontade nem de noite nem de dia.
Por isso, não passa de conversa fiada, alguém vir dizer que na Madeira as pessoas saem de casa à vontade e deixam as portas e janelas abertas. Esse tempo findou".
Depois de ironizar com a segurança da Quinta Vigia, único espaço que pode ter as portas abertas porque tem guardas, o padre aponta que "a insegurança ou medo é geral. Ponto. Porque, o tráfico de produtos estupefacientes e o seu consumo são feitos às claras e a céu aberto em qualquer lugar; os assaltos a imóveis, são feitos diante dos olhos dos legítimos proprietários e generalizaram-se quer em pleno dia quer no silêncio da noite; as casas devolutas, não escapa uma que não seja invadida por desocupados meliantes; a mendicância está a vista de todos sobretudo dentro do espaço urbano… É normal que este ambiente geral onde não se respeita nada nem ninguém conduza à agressividade e à violência. Por isso, não admira que cresça o número de feridos e pessoas assassinadas".
E alerta: "Pelo andar das coisas, não sendo feito nada, como se percebe pelos pronunciamentos das autoridades que não assumem a gravidade do problema, vamos continuar assim alegres na direção do abismo do pior"
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