"É cru e é cruel o que escrevo, mas é a realidade inexorável que se viveu. E que poderá vir a acontecer se os madeirenses não estiverem vigilantes".

O artigo do Padre Martins Júnior, o pároco que fez História na Ribeira Seca, Paróquia que vai deixar agora aos 84 anos de idade, não é nem para falar da sua saída do solo e do povo que "agarrou com unhas e dentes, como por aqui se diz", nem é para falar específicamente sobre a Ribeira Seca. É sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, sobre o milho da esperança feito arma retida nos portos. A Ribeira Seca vem de exemplo e da caracterização de homens e de lideranças, segundo o prisma do padre Martins, num paralelo que faz, à sua medida e à medida do seu pensamente que o tempo levou e trouxe e que, independentemente dos que o odeiam e dos que o adoram, constitui uma forma de estar, sempre, na luta pelas convicções dentro daquilo que sempre acreditou e acredita. É o padre Martins igual a si próprio. Sendo esta expressão um lugar comum, expressa o que é, de modo simples.
Escreve, num discorrer elaborado e mordaz, como sabe fazer, no seu blogue Senso & Consenso, para alertar consciências. Refere que "não restam dúvidas de que voltámos à barbárie da selva, do “olho por olho e dente por dente”. Do “homem, lobo do outro homem”. Quem suporta ver toneladas e toneladas de trigo bom a apodrecer diante de bocas esfomeadas, indefesas, a gritar pela vida de um naco de pão?!..."
Não sei se ao sabor da pena se ao bater do teclado, tecnicamente falando, a verdade é que o pároco daquela que ficou conhecida como a "terra libertada", em confronto com a Igreja Católica e com a política de Jardim, com Jardim mais diretamente, escreve isto: "Indivíduos e regimes que não são um exclusivo endémico do solo russo. Também por aqui deitam raízes que vêm à superfície, sobem-nos pelas pernas acima, apertam-nos as veias, desestabilizam-nos o coração e a mente – a vida. Todos os dias, mesmo sem nos apercebermos disso. Ai, a corda da fome enrolada ao pescoço de crianças e idosos dependurados ao relento das horas, sem ninguém que lhes valha! Ai, a vingança requintada de governantes – até dentro dos muros da religião - contra quem se lhes opõe em nome da Justiça e da Verdade!!!"
E é aqui, a dado passo do artigo que vai "batendo" leve, levemente, cada vez mais um leve pesado pela dimensão da mensagem que quer passar. À sue medida, na sua forma.
Como esta:
"Ainda ecoam aos meus ouvidos e de todos os que tomaram conhecimento de um governante ilhéu – para mim, de sangue mestiçado entre Hitler e Putin – que vociferava em redor da Ilha: “Para Machico, nem um tostão”. E de um outro ‘sócio’ colaboracionista bispo que às Irmãs, freiras do Convento da Caldeira (a única instituição católica que fabricava e vendia hóstias a todas as paróquias da Madeira) sim, proibiu-lhes de fornecer as hóstias para as missas na igreja da Ribeira Seca… O garrote financeiro a Machico e o garrote da fome eucarística aos cristãos da Ribeira Seca. É cru e é cruel o que escrevo, mas é a realidade inexorável que se viveu. E que poderá vir a acontecer se os madeirenses não estiverem vigilantes".
Comments