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  • Foto do escritorHenrique Correia

Polícia Municipal: o tempo que se perdeu a "brincar" aos partidos




Tantas vezes assistimos a boas propostas colocadas na gaveta por ter uma origem fora do Poder. Isto não é defender o povo, isto é defender os interesses partidários para serviço de clientelas militantes e exercício do poder pelo poder.




Tenho para mim que a partidocracia, na fórmula que vem sendo utilizada no contexto político, está a desvirtuar, há muito tempo, os princípios e a essência da Democracia, no entendimento que representa a origem da palavra como "Governo do Povo". Os sistemas podem ser bons, na génese, mas a forma como se exercem os poderes adulterou, quase por completo, os interesses das pessoas, a defesa da maioria em favor de uma minoria das élites que pululam nos partidos, com os respetivos correligionários, que podem atrair ou repelir consoante os interesses pessoais e a eventual concorrência que porventura possam vir a ter na sua dialética partidicrata, que assume contornos muito mais preocupantes quando se junta os partidos ao Poder.

Para mim, não é uma questão de partidos, já o referi em artigos anteriores, por ser minha convicção, esta problemática não tem a ver com este ou aquele partido, tem a ver mesmo com o Poder que cada um vai tendo, nacional, regional ou local. Depois, conta o tempo e a história de cada um nesse Poder, quanto mais tempo maior é esse exercício de estratégia mais para dentro do que para fora, favorecimento, negação relativamente a propostas alheias, mesmo que estas sejam positivas e boas para as populações. A origem superioza-se perante o benefício e tantas vezes assistimos a boas propostas colocadas na gaveta por ter uma origem fora do Poder. Isto não é defender o povo, isto é defender os interesses partidários para serviço de clientelas militantes e exercício do poder pelo poder. Mas ninguém entendeu isso, ninguém percebeu o valor dos sucessivos protestos que fazem emergir novos partidos, ninguém consegue ler, ou não quer ler, os sinais das populações.

Vem isto a propósito, também, da Polícia Municipal no Funchal. Andámos anos, muitos, com particular incidência no pós pandemia, a discutir a importância da Polícia Municipal, um corpo policial que existe em várias cidades, mas que se destaca em Lisboa e Porto. E no pós pandemia, quando o Funchal "voltou à vida ativa", já estavam sinais no terreno, tão evidentes que todos sentiam a necessidade de fazer qualquer coisa, estava visto que a PSP tinha limitações, além de que as forças políciais dependem da República e, por isso, qualquer medida devia ser acompanhada por diálogo, mas sobretudo decisão. O então presidente da Câmara, Pedro Calado, até foi dos políticos mais lúcidos, ao admitir que havia um problema de insegurança na cidade, nem sempre refletida nas estatísticas, mas um problema na mesma pelo sentir das populações. Esse sentir era e é real. Calado tinha bom discurso, pediu intervenção da República, mas quando chegou à Polícia Municipal nem quis ouvir falar. E porquê? Porque a Polícia Municipal tinha sido uma proposta, por sinal oportuna, da oposição, sendo na prática uma força que no contexto de insegurança do Funchal, teria uma presença visível e uma ação persuasiva relativamente aos focos de conflitos que antes ocorriam esporadicamente e que hoje l ocorrem quase diariamente.

Nesta dialética político partidária, argumentem o que quiserem, o Funchal perdeu tempo. Tempo para a Polícia Municipal ou para outra estratégia de corpo policial que ande pela cidade e que garanta um bem precioso aos residentes e visitantes, a segurança. Não importa agora vir dizer que esta Polícia Municipal que a vereação do PSD vai adotar é diferente da outra da Confiança, que tem um boné diferente ou duas armas em vez de uma, ou ainda os poderes de intervenção. É a Polícia Municipal, é uma decisão que está quase quatro anos atrasada. Ponto. E não é pelo boné, é mesmo pelo que é, pelas estratégias partidárias em que todo o Poder está correto e toda a oposição está errada. E o povo, que dá o Poder para governar, vê o Poder governar-se com esse Poder do povo. Está mal, muito mal. E depois queixam-se que perdem votos.

Não é caso único, já aqui se disse, mas é mais um. Só para enumerar outro, assim de memória recente, temos a proposta de voto em mobilidade para as Regionais, apresentada pela Iniciativa Liberal, que PSD e CDS chumbaram apesar de ser uma medida importante para o exercício de voto para a Assembleia Regional. E mais curioso foi o facto do presidente da Assembleia pertencer a um partido que votou contra e defender o voto em mobilidade em várias intervenções. Quando toda a gente percebeu que não houve voto em mobilidade por manifesta má vontade dos partidos na Assembleia. E porque a origem não era de um partido no Poder.

É assim que exercem a Denocracia? É assim que pretendem dar credibilidade aos partidos? Ou assim estão a criar condições para que que um dia, as pessoas esgotem a paciência e dêem aquele último "grito"?

Queremos a Democracia. De corpo inteiro. Com os vocábulos gregos "DEMOS" (Povo) e "KRACIA" (Governo) juntos e não separados.

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