"Porque escolhi..." está escolhido...
- Henrique Correia
- 27 de set. de 2023
- 3 min de leitura
As explicações e a falta delas no processo que conduziu ao acordo de incidência parlamentar para viabilizar a maioria absoluta à governação regional nos próximos quatro anos.

Acho que Miguel Albuquerque tem razão quando diz que a votação na coligação, expressiva, garante-lhe legitimidade para governar através dos ajustamentos nogociais que conduzam o projeto governativo a uma maioria absoluta, uma vez que apesar dessa votação alargada não reuniu os mandatos suficientes. Tem razão porque para se considerar com o direito a ser governo mais quatro anos. Tem razão porque não há dimensão, à esquerda, para um projeto alternativo, pelo que um eventual impasse iria encaminhar a solução para novas eleições.
Onde é que Miguel Albuquerque não tem razão nem pode concluir que andamos todos anestesiados pelas eleições, talvez as primeiras, em que não houve uma festa que fosse nas ruas, tirando alguns assobios a jornalistas continentais por terem feito certas perguntas. Imagine-se se não fosse vitória expressiva...mas voltando às partes em que Albuquerque não tem razão, obviamente do meu ponto de vista e vale o que vale. Não tem razão quando diz que sempre disse que se demitia se não encontrasse uma solução de maioria absoluta. Não foi assim, disse que se demitia se não tivesse maioria absoluta nas eleições. E não teve. Mas isso também não podia exatamente resultar em demissão, bastava admitir uma variante do discurso em função da vitória, da falta de alternativa, e na existência de solução através de acordos de incidência parlamentar. É verdade que os políticos têm dificuldade em admitir uma alteração de discurso, mas é melhor explicar o ajustamento do que manter o que toda a gente vê que não é.
Não tem razão num outro ponto. Uma negociação para a maioria absoluta e a escolha do parceiro, neste caso o PAN, nunca pode ser "porque sim" nem "porque escolhi". Não, não pode ser assim em democracia precisamente porque há eleitorados a respeitar, os da coligação e os do parceiro. Provavelmente não tem explicação e foi mesmo o que estava à mão, mas responder "porque escolhi" dá a ideia que podia ser qualquer um que fizesse o deputado 24, excluindo qualquer afinidade do ponto de vista ideológico ou de outra espécie qualquer. Se calhar foi assim, mas devia ter preparado uma explicação sem ser do género "quero, mando e escolhi..."
E de tal forma foi esta falta de sustentação, além do interesse no 24, que o próprio parceiro de coligação, o CDS, andou com dois discursos diferentes por parte dos seus líderes. Rui Barreto apressou-se a falar em grandes afinidades do CDS com o PAN, mas Nuno Melo, o líder nacional, foi mais direto ao assunto ao dizer que se fosse presidente do Governo teria feito outra opção, o que na prática seria a Iniciativa Liberal, que do ponto de vista político estaria dentro da lógica de interesses para PSD e CDS. Podia dar mais problemas de entendimento, mas era mais lógico.
De qualquer forma, seja qual for a razão, Miguel Albuquerque tem arte e experiência para ter uma explicação na manga sem ser "porque escolhi..." É que os eleitores não servem apenas para o dia do voto. Ou não deviam servir...
Parece que ninguém tem a ver com isso. Se calhar não tem a avaliar pela vitória "expressiva". Ou talvez fosse um momento menos bom, uma espécie de de "uma branca" que dá quando é preciso explicar e de repente não nos lembramos.
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