Presidente do Marítimo esteve mal mas os adeptos não podem fazer tudo...
- Henrique Correia
- 21 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Madeira precisa do futebol, o futebol precisa da Madeira. O foco deve ser esse. A deve ser de todos, nos direitos e nos deveres.

Estes são os maiores apoios que as equipas precisam por parte dos adeptos. E neste particular, o Marítimo "subiu de divisão".
As coisas não podem ser resolvidas à chapada. Não deve ser esse o procedimento na nossa vida normal nem deve ser essa atitude de quem tem responsabilidades acrescidas de cargos de liderança, e por maioria de razão na vertente desportiva, e ainda dentro desta no futebol, onde as reações das pessoas têm a desculpa, incompreensível, do irracional que se chama amor ao clube e que, por via disso, legitima todo o tipo de comportamento que reprovamos fora desse círculo de (quase) impunidade.
Sempre gostei de futebol, fiz grande parte da minha formação jornalística no desporto, sei o que é a irracionalidade que pulula neste desporto desde sempre, também tenho as minhas preferências, sou do tempo dos dois clubes, sou do Benfica e do Marítimo, a minha esperança era que o Benfica tivesse a sua vidinha resolvida quando defrontasse o Marítimo. Como se vê, também afetado por uma certa irracionalidade que é como uma espécie de vida paralela, um caso à parte do coração se sobrepor à razão. Vi muita coisa, o jornalismo desportivo sempre foi outro caso à parte, como se exigissem militância de escrita e o jornalista fosse um assalariado. Era assim e pronto, depois foi igual para a política. Até os nossos dias.
Mas apesar destas minhas ligações passadas, e de saber que o futebol vive um pouco à margem, em que uma chapada bem dada fora não é a mesma coisa de uma chapada bem dada dentro, a verdade é que a atitude do presidente do Marítimo é reprovável e fez muito bem em pedir desculpa, é uma obrigação perante um ato realmente irrefletido. Mas a diferença relativamente à opinião vigente, que no entanto não é, por si só, detentora da exclusividade de opinião, é a que os adeptos têm direito à indignação, liberdade de manifestação do desagrado perante um resultado e uma decisão, mas também têm deveres de respeito e urbanidade sem ultrapassar algumas linhas vermelhas, mesmo que estas tenham maior tolerância no futebol por comparação com o resto da sociedade, essencialmente por receio do ruído e do coro de aproveitamentos subsequentes.
Ao contrário do que se diz, não acho que os adeptos devam fazer tudo. E apesar de reconhecermos razões de queixa dos adeptos do Marítimo, que acorrem ao Estádio do clube em números claramente superiores aos restantes da Liga2, sem que isso tenha correspondência com os resultados e com a conquista de objetivos, a verdade é que por muito que queiramos encontrar respostas para determinadas atitudes, fica dificil quando se ultrapassam algumas barreiras. E nem serve de consolo as vergonhas que temos assistido no que se prende com o Sporting, há uns anos, com o Porto e Benfica, agora, sendo que o que se passa no Porto ultrapassou todos os limites que só são entendidos (?) precisamente porque as autoridades e entidades do futebol passaram anos a assobiar para o lado. Só porque é futebol e a massa acéfala, de cêntimos, é garantia de sobrevivência de um negócio de milhões.
Por isso, compreendendo esta dialética específica do futebol, mas com alguma clarividência que os anos também dão, entendo que todos os agentes do futebol devem ter liberdade com máxima responsabilidade. E os adeptos não podem ficar de fora desta equação, por muito que se queira desculpar a irresponsabilidade com o amor ao clube. Além de que, no caso da Madeira, não é único em termos de apoios no País, os clubes provavelmente estariam fechados ao desporto profissional se dependessem do que pagam os sócios, muitos deles exigindo, irracionalmente, dividendos e resultados sem contribuirem com um cêntimo, sendo verdade que as verbas oficiais representam uma aposta da Região, e bem, até como forma de criar dimensão que potencie a mobilização da juventude para a prática desportiva.
A Madeira precisa do futebol, o futebol precisa da Madeira. O foco deve ser esse. A responsabilidade deve ser de todos, nos direitos e nos deveres. Já para não falar que todos os madeirenses e portosantenses são, de forma indireta, "sócios" das coletividades desportivas.
Na parte que me toca, acho bem. Agora, criar "monstros sagrados", não...
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