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Programa "servido" de pressão

  • Foto do escritor: Henrique Correia
    Henrique Correia
  • 15 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura



Há coisas, como as mentalidades, que não mudaram assim tanto, como se diz, em determinados assuntos e contextos. Acontece assim quando queremos olhar para o mundo a partir do umbigo.




O Governo Regional apresentou um Programa que afirma ter propostas de todos os partidos e procura, com isso, a estabilidade parlamentar que o apoio do CDS ajuda mas não garante nada. O Governo pretende, fazendo vasto eco público, um quadro de consenso que evite o impasse governamental, mas não se sabe se essas propostas foram expressas depois de contactos e negociações "oficiais" com os partidos, ou se por exemplo resultaram de avaliação dos respectivos programas eleitorais e foram colocadas no Programa do Governo. Como fez Montenegro no Programa de Governo da República.

O Executivo de Albuquerque põe "preto no branco" reivindicações "emblemáticas", terminologia utilizada pela comunicação social dita de referência que tem apresentado, insistentemente, nas páginas e nos espaços noticiosos, um contexto que segue na linha daquilo que é pretendido pelo promotor do objetivo que se enquadre na estratégia da mensagem. De forma desmesurada. Até à exaustão. Ninguém diria que não há jornais do Governo, coisa de outros tempos, que desvirtuava o mercado, e que não se poderia manter em nome da pluralidade da informação. Agora, não. Há pluralidade do mesmo dono, só nos portos é que se fala em monopólio. Na comunicação social de "referência", ser privado garante independência, mas a maior fatia da sobrevivência financeira é assegurada pelo Governo, de forma direta ou indireta. Mas agora não quer dizer nada. Dizendo quase tudo.

Mas neste contexto em que se torna necessário viabilizar o Governo, é verdadeiramente surpreendente as encenações articuladas com a comunicação social, pagamentos adiados para dar a ideia que dependem do Programa de Governo, deitando mão de tudo o que está "mais ao pé" para trabsmitir uma imagem de caos se houver o chumbo. Bastava sensibilizar, ser "mais Papista do que o Papa" era supostamente de outros tempos.

Claro que o Programa de Governo e o Orçamento são instrumentos essenciais à governação e a sua aprovação é importante. Mas acontece que o quadro parlamentar é este, não há maioria absoluta, é preciso negociar, mas negociar falando com os partidos, partilhando informação e assumindo a responsabilidade maior, que logicamente está do lado do partido que governa. Depois vêm os outros. Mas o enquadramento parlamentar é exigente, o eleitorado quis assim, quis que o Governo governasse com aquilo a que podemos chamar de "rédea curta". Não tem maioria absoluta, não pode governar como quer e entende. A governação, para quem ainda não percebeu, está diferente. Não é pior nem melhor, é diferente. O PSD não estava habituado? Porventura, não. Mas até ver será assim, quase que discutindo proposta a proposta. É um problema? É. Torna-se mais difícil andar a "pedir licença" aos adversários, ao CHEGA e ao JPP, este que não tem largado os calcanhares do Governo? À IL e ao PAN? É verdade, é difícil tudo isso, mas também desde 2019, o Governo começa a estar habituado a estas cedências "escurecendo" qualquer coisinha, por exemplo ao CDS, como sejam as críticas da campanha transformadas em manifestações de "carinho político" em favor, disse-se, de um bem superior: a Madeira.

É importante que o quadro parlamentar seja composto por adultos na sala, mas a realidade é que a estratégia seguida está a funcionar um pouco ao contrário. Pelo exagero, pela forma descarada superior ao conteúdo, pela insistência que facilmente se traduz em pressão sem precedentes face a um cenário a que se chegou pela via democrática, a mesma que deu a vitória relativa a Miguel Albuquerque e que fez o Representante indigitar o líder do PSD-M a formar Governo. E, como se sabe, não podia fazer outra coisa face à proposta alternativa do PS/JPP, que tinha a garantia de 20 deputados contra 21 de PSD e CDS.

É preciso que se ponham todos no seu lugar. O PSD acima de tudo, mas também os outros. Mas são perfeitamente dispensáveis as manobras que visam, não esclarecer, mas manipular claramente a opinião pública sobre eventuais problemas que venham a ocorrer na votação no Parlamento. E, depois, é triste ver as figuras a que se prestam certas figuras para as reverências que historicamente a Madeira sempre registou e que já vem do tempo em que era notícia de jornal a vinda ao Funchal do padre de São Jorge ou do Porto Moniz.

Há coisas, como as mentalidades, que não mudaram assim tanto, como se diz, em determinados assuntos. Acontece assim quando queremos olhar para o mundo a partir do umbigo.



 
 
 

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