Albuquerque tomou consciência, vem tomando cada vez mais essa consciência, de podr acontecer uma vitória que, pela primeira vez, leve o PSD à derrota política de governação.

O PSD tem de estar unido, senão não chegamos lá". Esta frase de Miguel Albuquerque, em entrevista ao JM, é simultaneamente um alerta e uma dúvida sobre o resultado do PSD Madeira nas eleições legislativas regionais antecipadas de 23 de março. Uma dúvida que se adensa com o início, oficial, da campanha propriamente dita. Albuquerque caiu em si, como diz o povo, está cada vez mais preocupado com a decisão dos eleitores e fica numa posição em que só pode jogar no "tudo ou nada": ou "ressuscita" o PSD-M das maiorias absolutas ou pode afundar o partido para um estado muito complexo e, quem sabe, dificil de recuperar. Acho que Albuquerque tomou consciência, vem tomando cada vez mais essa consciência de poder acontecer uma vitória que, pela primeira vez, leve o PSD à derrota política de governação.
Miguel Albuquerque fez uma espécie de fuga para a frente depois daquela deslocação relâmpago de Hugo Soares, o líder parlamentar, à Madeira, que na altura foi desvalorizada pela habitual máquina informativa, mas na verdade era para avaliar a saída de Albuquerque tendo como contrapartida alguns cargos em vista, nos planos interno e externo. Albuquerque chegou a ponderar, como aqui se disse na altura, chegou mesmo a preparar Jorge Carvalho para uma liderança de transição, sendo que o secretário da Educação, figura de consenso, fez inclusive alguns convites antes do telefonema a desfazer tudo. Tão rápido se fez como se desfez esta solução. E foi aí que Albuquerque deu o passo em frente, uma espécie de "fuga" a um momento de pressão, para ter uma atitude e um discurso de ir sozinho a eleições acreditando que o povo, numa larga maioria pouco virado para escrutínios e mais virado para premiar uma certa vitimização, podia dar uma maioria absoluta ao PSD-M. Ou seja, o partido que tem vindo a perder votos ainda que ganhando sucessivas eleições, podia de repente passar dos atuais 19 para 24 deputados. Albuquerque acreditava que isso ia acontecer, fosse ou não fosse arguido, fizesse o que fizesse. Acreditava, hoje acredita menos, mas não pode voltar atrás.
De facto, desde então, o líder do PSD, mantendo um discurso de mobilização, mas alterou a forma como o faz, não está tão convencido na maioria absoluta, embora a peça naturalmente, mas "acordou" para uma realidade que já devia ter despertado aquando dos episódios com Manuel António Correia e o pedido, por parte deste, de congresso e eleições internas. Esse processo foi tão desgastante e tão estratégico no sentido de ganhar tempo para jogar com prazos, que teve como consequência uma divisão cada vez maior no partido, precisamente o que Albuquerque não precisava. Foi como um paradoxo pedir a maioria absoluta e não proporcionar, com atitude, a unidade interna, mesmo acreditando que os militantes afetos em Manuel António não iriam votar num outro partido.
Miguel Albuquerque fez tudo para travar o avanço do seu opositor interno. Os órgãos do partido utilizaram todos os expedientes para evitar internas, mas Albuquerque já tinha antecipado essas decisões em múltiplas declarações que faz sobre o partido em ações governativas. Estamos num "cantinho do céu", uma expressão para definir a tranquilidade, mas que ajuda a ver certas especificidades que aqui são desvalorizadas.
É por isso que Miguel Albuquerque fez um pouco de "marcha atrás" naquele discurso de "favas contadas" e tem vindo a mobilizar com um apelo interno. Pode não chegar a tempo em função dos "estragos" feitos em momentos de irracionalidade, mais com o coração do que com a cabeça, no que foi secundado por alguns secretários e uma linha intermedia de decisores, cuja função foi dizer "esfola" quando Albuquerque dizia "mata". Foram assim os ditos "saneamentos políticos" a apoiantes de Manuel António, a pretexto da falta de confiança. Uma espécie de liberdade de escolha desde que seja a certa. Fica difícil, agora, pedir uma unidade que efetivamente não há.
Neste contexto, e apesar dos partidos da oposição também não andarem com grandes unidades internas (excepção ao CDS) , mais o PS do que o JPP, mas também este com as suas "desavenças", mais o CHEGA que não se sabe se vai chegar para manter o que tem, a verdade é que mesmo num quadro de manutenção dos valores partidários, ainda assim, pode acontecer um cenário provável de "geringonça", sobretudo se o eleitorado vier a premiar uma certa acutilância (há quem goste e quem não goste do estilo) do JPP, que em termos de escrutínio tem feito o papel mais assertivo de liderança dessa oposição, que deveria caber ao PS.
Uma "geringonça", que seria inédita na Madeira, mas que na República já foi experimentada, só será viável com o PS e JPP juntos, com um ou outro aliado, mesmo assim com crescimento de um deles e partindo do pressuposto que o PSD-M mantém os seus 19 deputados e que o CHEGA não apoia solução de Governo com Albuquerque. De parte, por ser inviável, ficaria aquela ideia do CHEGA apoiar uma solução de governo do JPP sem o PS. Só se houver um cataclismo a 23 de março.
Em início de campanha, não convém arriscar. Só vendo os resultados.
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