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  • Foto do escritorHenrique Correia

Quando o poder "eterno" não deixa saber sair...




O que aconteceu a Pinto da Costa, mais do que as ideias de poder, é um momento de reflexão para a nossa vida coletiva. Nada é eterno. Mesmo para os que se julgam que são...



Robert Greene é um escritor nascido em Los Angeles e foi o autor do livro sobre as 48 Leis do Poder. Todas retratando posicionamentos e estratégias que visam a permanência das lideranças durante muito tempo, que são facilmente percetíveis na nossa vivência coletiva, em diversos domínios, com tantos exemplos do passado que nos ajudam a perceber que, um dia, a coisa acaba mal. Normalmente, essas lideranças não sabem sair, perpetuam-se no poder e exercem esse poder com um hipotético apoio de uma "entourage" que vive na malha do regime e que só apoia esse regime enquanto ele, regime, apoia. Que tanto fazem juras de fidelidade ao líder "eterno" como enviam mensagens subliminares de um "não te esqueças de mim" ao então opositor, não vá este ganhar e lá se vão as mordomias que, tal como os líderes, também parecem "eternas". Como refere Greene, numa das leis "aprenda a manter as pessoas dependentes de si. Não precisa ser um génio, precisa ter habilidades que o façam destacar-se do grupo.” ou então "jogue com a necessidade que as pessoas têm de acreditar em alguma coisa. As pessoas têm um desejo enorme de acreditar em alguma coisa. Torne-se o foco desse desejo, oferecendo a elas uma causa, uma nova fé para seguir.” Ou ainda “cautela com os amigos – eles o trairão mais rapidamente, pois, são com mais facilidade levados à inveja. Contrate um ex-inimigo e ele lhe será mais fiel, porque ele tem mais a provar.” Um parêntesis para dizer que temos por cá alguns exemplos destes. Na política e não só...

Estes e outros "conselhos" do escritor, para reflexão e conclusão de cada um dos seus leitores, constitui como que um puzzle que se encaixa em muitos dos exemplos que temos de lideranças, sendo que aquela ideia de que um dia acaba mal, foi este fim de semana personificada na figura do presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, o todo poderoso que foi "esmagado" eleitoralmente por André Villas-Boas. A surpresa foi a derrota, de certo modo, mas maior surpresa esteve nos números dessa derrota. Para um poder absoluto é demolidor e o facto de Pinto da Costa sair do Dragão sem falar - devia ser grande também na derrota - significa o peso que esta derrota representa para o Porto era a vida.

Mas Pinto da Costa podia ou não ter evitado isto? Podia. Podia ou não ter a consciência de que a saída era a melhor solução, saber sair coroado pelos maiores sucessos para o clube, talvez difíceis de igualar para qualquer outro presidente nos tempos vindouros? Podia. Mas não fez nada disso, fez precisamente o que o poder faz, é sempre pouco e o núcleo duro, do sim permanente, nunca permite ver a realidade e, por isso, a realidade, às vezes, prega partidas destas.

Pinto da Costa foi um grande presidente, no entendimento de conquista de títulos e de dimensão internacional do clube. Mas cometeu o erro de outros presidentes de outros clubes que assentaram a sua gestão nas cumplicidades, nos conluios, nos favorecimentos e na "alimentação" da clientela. Ponderou tudo, quase tudo, menos o discernimento, que o poder alargado tolda e os seguidores "cegos" impedem de ver, o momento da saída. E esta saída foi, por culpa própria, a pior que poderia ter acontecido a Pinto da Costa. A obra e o homem não mereciam isto. Mas é isto que acontece quando as pessoas assumem que o homem e a obra são seus feitos e não feitos para a comunidade.

O que aconteceu a Pinto da Costa, mais do que as ideias de poder, é um momento de reflexão para a nossa vida coletiva.

Nada é eterno. Mesmo para os que se julgam que são...

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