Antigo secretário "ataca" para todos os lados metendo Jardim, Albuquerque e empresários ao "barulho": "O Avelino [Farinha] não estava satisfeito com o meu desempenho nas obras públicas, porque eu é que era o secretário das Obras Públicas, e ele sempre se habituou a ter um secretário que o servisse".
Sérgio Marques diz: "O problema é que esta governação social-democrata acabou por levar a que se afirmassem quatro ou cinco grupos económicos, que acabaram por acumular muito poder".
O Diário de Notícias de Lisboa publicou hoje a primeira parte de um trabalho sobre a governação da Madeira, desde Jardim, envolvendo a sucessão para Miguel Albuquerque, com declaração de políticos e empresários que dominaram a vida política e empresarial em diversos períodos destas quatro décadas da governação social democrata. Podemos dizer, lendo atentamente, que até parece uma tentativa para "rebentar" o PSD-M por dentro, o que é relevante em ano de eleições regionais. Sérgio Marques, que é deputado pela Madeira na Assembleia da República, está no centro da polémica.
Jardim diz que os inimigos até estão mais dentro do partigo do que fora dele, ideia também defendida por Cunha e Silva, vice de Jardim e que às suas costas tem obras controversas ainda por resolver, como a Marina do Lugar de Baixo e o Penedo do Sono, no Porto Santo.
Mas nesta reportagem, há declarações verdadeiramente polémicas de Sérgio Marques, que fez parte do Governo de Albuquerque, no momento quente que se seguiu a Jardim e que foi o governante que mais procurou ajustes de contas com os chamados jardinistas, apesar de, ele próprio, ter sido um jadinista desde sempre ocupando vários cargos internos e e externos. Hoje, ao DN Lisboa, Sérgio Marques, que enquanto secretário regional teve a tutela das obras públicas e da comunicação social, com despedimentos em série à sua conta no processo de transferência do Jornal da Madeira para a sigla JM, aponta críticas tanto a Jardim como a Albuquerque:
"Jardim continua a condicionar muito a vida política do partido. E muito com a ajuda dos grupos económicos que ele ajudou a formar para condicionar o PSD e a governação [...]. O Jardim ainda tem como grande motivação, é a minha impressão, em vida dele, ter uma ação importante no afastamento do Miguel [Albuquerque] da presidência do governo".
Escreve o DN que "Sérgio Marques, secretário regional entre 2015 e 2017, no primeiro governo de Miguel Albuquerque, afirma que "o problema é que esta governação social-democrata acabou por levar a que se afirmassem quatro ou cinco grupos económicos, que acabaram por acumular muito poder: Sousa, Avelino, Pestana, Trindade e Trindade/Blandy. E principalmente dois grupos [...], o Luís Miguel [Sousa], com quem eu trabalhei oito anos, e o Avelino [Farinha] acho que foram os mais beneficiados da governação regional".
Foram, entende o antigo secretário regional, "muito protegidos". "Grupos que cresceram muito à conta dos negócios com a região. E depois o que é certo é que acumularam, uns e outros, muito poder e a dada altura começaram a condicionar a governação." E isso, assegura, "sentiu-se, e tanto que a dada altura foi um dos grandes argumentos do PS contra o PSD. Foi dizer que o PSD estava aprisionado pelos interesses dos grupos. Isso pesou tanto assim que os grupos viram-se na necessidade de controlar os media regionais".
Mais ainda: "Quando houve a remodelação do governo, quando eu deixo o governo, houve ali muito dedo do Jardim. O Jardim jogou as suas peças e pôs o Avelino [grupo AFA] e o Sousa [grupo Sousa] em campo. O [Luís Miguel] Sousa consegue afastar o Eduardo Jesus porque o Eduardo Jesus [ secretário regional]tinha uma agenda para reformular o porto. O Avelino [Farinha] não estava satisfeito com o meu desempenho nas obras públicas, porque eu é que era o secretário das Obras Públicas, e ele sempre se habituou a ter um secretário que o servisse. Comigo isso não acontecia [...], o Avelino depois consegue afastar-me das obras públicas. Ele não queria que eu saísse do governo, ele queria era só afastar-me das obras públicas".
Nesta reportagem, o antigo vice de Jardim Miguel Sousa, que teve a coordenação económica do governo de 1988 a 1992, aponta período de obras "inventadas": "Qualquer pessoa conhecedora, atenta à vida da Madeira, percebe isso. A partir de 2000 foi assim." E tudo começou com o "santo Guterres", que "pagou a dívida da Madeira em 1997. Pagou-a não com vontade de ajudar a Madeira, mas porque o Carlos César tinha acabado de ser eleito presidente do governo dos Açores e impôs ao Guterres que ou limpava a dívida dos Açores ou ele [Carlos César] não assumia o cargo. E o Guterres, para pagar a dívida dos Açores, teve que pagar a da Madeira".
Alberto João Jardim também fala e "afirma que quando Miguel Albuquerque o "enfrentou já tinha o Passos Coelho por trás", e não só: "A maçonaria esteve fortemente ligada ao processo da minha substituição. Não estou a dizer que o Miguel seja da maçonaria, mas estiveram fortemente empenhados na minha substituição."
"Tenho maioria absoluta em outubro de 2011, mas os gajos em 2012 querem eleições para me porem na rua, para me afastar. A certa altura eu tinha mais adversários dentro do partido do que na rua, as pessoas que votavam. Na rua estava bem, o problema era aqueles sacanas lá dentro [do partido]".
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