"De nada lhe valeu o apoio da opinião pública e os apelos feitos ao Presidente da República, aos partidos com assento no parlamento regional e respectivo governo. Os burocratas de serviço falaram mais alto."
Santana Castilho é professor universitário e já foi subsecretário de Estado dos Assuntos Pedagógicos.
A história do professor Joaquim Sousa, o professor e diretor da escola do Curral das Freiras, afastado por um processo com contornos ainda não totalmente esclarecidos, mas que tem na decisão do tribunal, favorável, no diferendo com a secretaria regional da Educação, um patamar de alguma reposição da justiça pela qual o docente lutou, acabou por despertar a atenção de todos para uma realidade de um "braço-de-ferro" que deixou o secretário da tutela numa espécie de "beco sem saída". A solução foi a anunciada, pagar tudo ao professor e contar o tempo de serviço entretanto retirado. O que não pode é devolver o que não é contabilizável.
Mas neste contexto de reações, o jornal PÚBLICO deu expressão ao pensamento de Santana Castilho sobre este caso. Santana Castilho tem uma vida de docente com mais de 40 anos, 27 no ensino superior. Foi membro do VIII Governo Constitucional, como Subsecretário de Estado dos Assuntos Pedagógicos. Foi consultor do Banco Mundial, da União Europeia e da UNESCO. E sobre o caso, foi direto, duro na crítica à forma como decorreu este processo: "Do meu posto de observação segui o kafkiano processo e fui lendo testemunhos de professores e alunos de uma escola profundamente humanizada por Joaquim Sousa. E se nada disse na altura foi porque Bárbara Reis, aqui, em 29 de Março de 2019, disse tudo. A Joaquim Sousa pagaram agora os salários, injustamente sonegados. Mas mandaria a decência mínima que lhe pedissem desculpa pela violência indizível que manchou a honra de um professor que acertou, num reino de desacertos. Tanto mais que, por ele, marcaram-lhe, também, a mulher e dois filhos e extinguiram, por via escabrosa, a sua escola-modelo. Tudo o que dela resta piorou. Mas tudo parece cumprir, agora, a bíblia dos imprestáveis: o regulamento.
Esta saga mostra que, 47 anos depois, na mente capta de muitos dirigentes públicos, persistem os três grandes princípios da administração pública de outrora: não te rales mas não te entales, a iniciativa vem sempre de cima e nunca ninguém foi castigado por não fazer nada".
Santana Castilho lembrou, neste escrito, que "Joaquim Sousa foi o obreiro principal do projecto educativo que levou a escola da vila mais pobre e isolada da Madeira a ser considerada, em 2016, uma escola-modelo, tão-só a melhor escola pública no exame de Português do 9.º ano de 2015. De nada lhe valeu o apoio da opinião pública e os apelos feitos ao Presidente da República, aos partidos com assento no parlamento regional e respectivo governo. Os burocratas de serviço falaram mais alto."
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