Caberá a Miguel Albuquerque decidir o que fazer. Já sabe com o que conta, agora é só saber que riscos está disposto a correr para mais um mandato.
O conselho regional do PSD Madeira, realizado no último sábado no Porto da Cruz, foi apresentado como de grande unidade visando as eleições regionais deste ano onde o partido, em coligação com o CDS, pretende conquistar a maioria absoluta para manter o poder que detém desde a Autonomia.
Mas uma coisa é a unidade para consumo externo, outra coisa é o que se passa internamente, onde o ambiente já aquece por causa das listas e sobretudo por causa do candidato à presidência da Assembleia Regional, que vai sair dessa lista conjunta com o parceiro de coligação.
Sabe-se que o conselho regional foi mais polémico do que parece e houve mesmo uma reunião de "emergência" para que o líder Miguel Albuquerque ficasse a conhecer, no fundo, aquilo com que conta como consequência das suas decisões, quer na formação das listas, quer depois na escolha para a presidência da Assembleia Regional, o principal órgão da Região que muitos entendem ser pertença do maior partido, no caso o PSD, mas fruto das negociações para a formação de governo, em 2019, foi entregue ao CDS, no caso a José Manuel Ribeiro.
Sentados frente a frente, de um lado o líder do PSD Madeira Miguel Albuquerque, do outro o secretário-geral social democrata José Prada e o líder parlamentar Jaime Filipe Ramos. Se Cunha e Silva for na lista, há chatice pela certa independentemente das tendências internas, comprovando-se a falta de consenso relativamente à figura do antigo vice presidente de Jardim, que apesar de estar aberto a uma liderança do Parlamento, enfrenta o que sempre teve, no PSD-M, um problema de popularidade interna.
Miguel Albuquerque ficou a saber o que já calculava: se meter Cunha e Silva na lista, serão mais problemas do que soluções. Por um lado, pode enfrentar recusas para escalonar os candidatos, por outro, se insistir, pode ter surpresas na altura da votação, pode mesmo, num hipotético cenário, correr o risco de José Manuel Rodrigues ser eleito pelo PSD em prejuízo de Cunha e Silva. E Albuquerque, sabe-se, ainda que pouco sensível a um clima de "insurreição", por alguma teimosia nas decisões que toma, não quer correr esse risco e está a medir muito bem as sensibilidades para ver se faz "braço de ferro" ou se encontra uma solução mais pacífica. Que pode passar pela continuidade de José Manuel Rodrigues se isso representar uma mensagem para as "brigas" internas no PSD-M.
Nesta reunião "secreta", em ambiente de conselho regional, o líder ouviu tudo o que era para ouvir e já está na posse de todos os dados para assumir uma decisão, sabendo que vai enfrentar um outro problema, como já se disse, o clima tenso entre José Prada e Pedro Calado, que não morrendo de amores por Cunha e Silva, apoia o nome para uma candidatura ao Parlamento apenas porque essa candidatura seria contra uma pretensão de Prada. Com Jaime Filipe pelo meio, as coisas fiam ainda mais fino.
Albuquerque já disse ser um problema a feitura das listas, a que se junta a dúvida sobre a dimensão que assume, para o PSD-M, o cargo de presidente da Assembleia. Além disso, tem a representatividade dos concelhos, situação resolvida com Pedro Coelho (Câmara de Lobos), Carlos Teles ( Calheta) e Ricardo Nascimento (R. Brava), que vão estar na lista devido ao facto de terminarem o ciclo autárquico por limite de mandatos. E tem a JSD, além da posição de José Manuel Rodrigues, que deve ir em lugar elegível, sendo que Rui Barreto já está indicado para número dois depois de Albuquerque.
Face a estes enquadramentos, caberá a Miguel Albuquerque decidir o que fazer. Já sabe com o que conta, agora é só saber que riscos está disposto a correr para mais um mandato. Para isso, é preciso ter o partido mesmo unido. E ganhar eleições.
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