Só o subsídio de desemprego é que deve ser revisto para obrigar a trabalhar quem não quer? E as empresas que vivem de subsídios e que querem trabalhadores mas não querem pagar? Já é diferente?
Não gosto de assuntos "feitos" antes mesmo de serem abordados. Não gosto de abordagens encaminhadas para um determinado objetivo só porque serve a nichos de mercado. Não gosto de tomar a parte pelo todo, porque além de não ser correto fazê-lo, não é sério à partida nem tão pouco desperta um debate sério sobre a realidade.
Não tem havido um debate sério sobre o mercado de trabalho, sobre as ofertas de emprego, sobre a procura e os níveis dessa procura, sobre a precariedade que é oferecida e, dentro dela, a forma como os contextos ocorrem nesta relação, nem sempre avaliada de forma transparente, real e independente. Não há um só ponto de vista, relativamente aos desempregados, não há só um ponto de vista relativamente aos empregadores e não há só um ponto de vista sobre o mercado de trabalho. Em todas estas vertentes, há uma parte e há um todo, sendo perigoso e falacioso tomar uma parte para caraterizar o todo. Por estar a ser feita essa avaliação, que serve determinados objetivos, é que se deturpa diariamente a realidade.
Neste jogo de palavras e de partes, tem sido feita uma análise redutora do trabalhador, partindo do pior para classificar o melhor. Fica um melhor pior do mercado e logicamente uma imagem dominante que vai no sentido do não trabalho, do preferir o subsidio de desemprego, de falta de espírito de sacrifício e da sobrecarga que recai em quem trabalha para suportar os "vadios". Vai tudo para o mesmo saco, como se o conjunto de desempregados fosse a única ponta solta da subsidiodependência, como se os subsídios de desemprego não fossem resultado de uma correspondência com as contribuições legais para o efeito, muito diferente da subsidiodependência de pessoas e instituições que recebem verbas a fundo perdido e muitos nem prestam contas.
Claro que no Instituto de Emprego estão inscritos desempregados que não querem trabalho e só querem o subsídio. É uma forma de estar criticável, mas nem de perto nem de longe corresponde à maioria. E quantos jovens estão inscritos no IEM, à procura do primeiro trabalho, e ficam meses, anos, sem que sejam chamados seja para o que for? Quantos jovens são chamados, ao abrigo de programas de emprego ativo, propondo 592 euros e são despachados pelas empresas antes que completem tempo suficiente para virem a auferir qualquer subsidio, sem que essa situação tenha a ver com falta de empenho do jovem, mas sim com regras "viciadas" do mercado de emprego? Há de tudo.
Sendo verdade que a economia funciona com base nas empresas, que criam riqueza e criam emprego, também é verdade que as empresas fazem-se com as pessoas e muitos empresários tratam as pessoas como números, simplesmente porque tratam tudo por números. Recebem subsídios para criar emprego precário, rodam trabalhadores à conta disso e efetivamente vivem, permanentemente, com esse expediente sem haver estabilidade de recursos humanos. Mas não vamos, por isso, dizer que as empresas querem é subsídios e não querem pagar aos trabalhadores. Existem muitas assim e depois queixam-se que não há trabalhadores. Mas não é tudo igual e há empresários que têm uma política de recursos que atende às pessoas.
O que se precisa não é de fundamentalismos nas avaliações, mas sim prudência, bom senso e verdade. Porque se for para fazer demagogia com o fim do subsidio de desemprego como forma de obrigar a trabalhar quem não quer, então que se acabe com os subsídios, mas todos. Não sei se há noção da subsidiodependência que vai por aí, mas se acabar vamos ter uma insolvência (quase) coletiva.
Sejamos sérios se for para falar sério.
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