Os portugueses protestaram através do Chega e deram um peso suficiente para ser "muleta" de quem quiser governar à direita. A culpa não é do Chega, a culpa é do eleitorado
Claro que o Chega é um partido com alguns fundamentalismos, claro que muitos desses fundamentalismos são a base de algumas conversas de café, que não suportadas pelo discurso democrático, claro que é o partido de André Ventura e assim de repente não nos lembramos de outro nome de dimensão próxima, claro que é tudo isso e umas coisas mais, mas é um partido constitucionalmente aceite e com deputados eleitos na Assembleia da República. Contra isso, não há grande coisa a fazer, os portugueses protestaram através do Chega e deram um peso suficiente para ser "muleta" de quem quiser governar à direita. A culpa não é do Chega, a culpa é do eleitorado que vota por impulso e já suportou tanta coisa assim. Há uma iliteracia política que anda a eleger a torto e a direito e depois as pessoas queixam-se da falta de qualidade e da falta de líderes com carisma e competentes.
Mas no meio de todas as avaliações e dos gostos de cada um, não se percebe muito bem a audiência de André Ventura em Belém e as declarações do líder partidário no final: "Tanto a nível pessoal como para o partido, é "satisfatório e de reconhecimento que o Presidente da República não será obstáculo a qualquer tipo de participação governamental por parte do Chega".
Não percebi. O Chega falou com Marcelo e ficou satisfeito do Chefe de Estado dar uma espécie de "luz verde" para integrar um Governo, no caso do PSD precisar de apoio numas próximas eleições legislativas nacionais ou até em eleições mais próximas, as Regionais deste ano na Madeira onde a coligação PSD/CDS poderá não ser suficiente para dar maioria absoluta, de acordo com várias sondagens. Pode ser preciso mais um partido e as probabilidades pendem para a Iniciativa Liberal ou o Chega, uma vez que Albuquerque ainda não foi claro quanto a preferências, embora a IL já tenha manifestado Direto, direto, nada. Fica a ver o que vai dar
Estas declarações de André Ventura dando conta de uma suposta neutralidade de Marcelo a um acordo de governo, lança várias dúvidas: Ventura admite que o seu partido tem anti-corpos, admite que a Democracia portuguesa tem reservas, admite que a magistratura de influência do Presidente extravasa as competências de Estado e entra até nos partidos. Não estará muito longe da realidade. É estranho, mas é de facto assim.
A nota da presidência não fala na mesma direção de Ventura. Nem podia falar. A presidência da República não pode vir dizer que o presidente garantiu ao líder do Chega que o Chefe de Estado não vai criar obstáculos à participação do Chega num Governo. E se Ventura disse isso e não foi isso que se passou, Belém devia vir desmentir. Se esse foi um tema, é grave para Marcelo.
Quem foi mais direto no discurso, sem ir direto ao nome Chega foi o líder do PSD Luís Montenegro, que recusa coligações com partidos xenófobos, populistas. "Com a minha liderança não teremos uma geringonça de direita".
Será que Albuquerque pode dizer o mesmo na Madeira relativamenteao Chega?
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