A estabilidade de "rédea curta"...e Cafôfo a "arrastar-se"
- Henrique Correia
- há 10 horas
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Paulo Cafôfo devia fazer o que fez o líder nacional: sair já para dar outro fôlego ao partido nos desafios seguintes. Insistir numa espécie de autoflagelação só vai piorar as coisas.

Os eleitores deram vários sinais nas eleições legislativas nacionais antecipadas de domingo: querem uma estabilidade, é verdade, querem a AD a governar, é verdade, mas de "rédea curta", querem governação negociada, não ligam nada a dúvidas judiciais ou a casos em que a transparência de procedimentos não é totalmente clara, protestam através do voto numa voz que tem dois temas sensíveis que os partidos tradicionais não conseguiram resolver, antes agravaram: segurança e imigração. Os portugueses não querem o CHEGA a governar, sabem que há uma radicalização de projeto num discurso fácil e de imediato consumo, mas querem o CHEGA a protestar, sobretudo em assuntos que preocupam os cidadãos e que o politicamente correto de de PS e PSD não permitiram resolver. E como muitos pensaram o mesmo, a votação de André Ventura deu-lhe mais protagonismo e fez o País votar à Direita, com uma Direita mais extrema e arrasar a Esquerda, com particular estrondo no PS, no Bloco de Esquerda e na continuada descida do PCP.
Mas esta "rédea curta" dos portugueses à governação trouxe um cenário político que vai exigir responsabilidades acrescidas de todos, vai exigir compromissos, mas vai sobretudo exigir sentido de Estado ao PSD/CDS e ao PS, uma vez que um entendimento AD/IL não é suficiente para a estabilidade governativa. Isto se houver uma estratégia, mesmo que conjuntural, para evitar que, daqui por um ano, o CHEGA possa ir ainda mais longe com reflexos inimagináveis para o País. "Não vou parar até ser primeiro-ministro", disse André Ventura, com a propriedade de uma eleição de 58 deputados, tantos quanto o PS, um facto histórico que a todos exige reflexão. Não é uma reflexão normal, é a REFLEXÃO. Se assim não for, a instabilidade vai continuar e daqui a um ano teremos provavelmente eleições. Com consequências imprevisíveis para o futuro do País.
No que se prende com a Madeira, ainda que as eleições fossem nacionais, há uma clara confiança do eleitorado na AD, por via do PSD Madeira, há como que um eleitorado fixo, um fenómeno muito madeirense, que prolongou a votação recente nas Regionais.
Depois, há um definhar do PS de Paulo Cafôfo, uma queda que vem sendo verificada desde há algum tempo, uma liderança que não consegue criar laços até mesmo na sua base de apoio. O que é estranho tendo em conta o que Cafôfo conseguiu em 2019. Foi como um "morrer na praia" e nunca mais recuperou, está hoje em prejuízo do PS, pelo que, claramente, devia fazer o que fez o líder nacional: sair já para dar outro fôlego ao partido nos desafios seguintes. Sair não dá instabilidade, se ficar é que dá.
O argumento que sustenta a tese da continuidade até às eleições autárquicas para não desestabilizar internamente o partido, não colhe, uma vez que o que desestabiliza o partido é uma liderança em fim de linha, derrotada, fragilizada pelos resultados e sem credibilidade para escolher equipas e reunir os melhores. Não é nada de pessoal, até porque Cafôfo já fez bons resultados, mas o percurso e algumas escolhas não ajudaram nada e o desgaste foi inevitável. Às vezes, é importante dar passos atrás para dar depois passos em frente. E o melhor momento para parar, como não foi antes, é já. Como fez Pedro Nuno Santos, e não é por isso que vai desestabilizar o partido em pré período de eleições autárquicas. Antes pelo contrário, possibilita outras opções e nova liderança. É uma questão de bom senso e de assumir as responsabilidades...com responsabilidade. Não estamos a confundir eleições, estamos a falar de desgaste resultante de sucessivas eleições em contexto de descida, de instabilidade interna e de falta de reconhecimento externo. E nestes casos, é preciso elevação para sair no momento certo.
Relativamente ao CHEGA e ao JPP, foi surpreendente também na Madeira. O CHEGA é conjuntural, também numa perspetiva de protesto, além de que há uma componente de reconhecimento no que se prende com a ação do deputado Francisco Gomes. Já o JPP, fez história ao eleger, pela primeira vez, um deputado à Assembleia da República. Curioso o facto de ambos os partidos terem eleito um deputado mas com uma diferença gigantesca de votos. O CHEGA com 29.038 e o JPP com 17.115. Só para lembrar, o PS registou 18.704.
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