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Maritimo: do excesso de poder ao excesso de debate

Foto do escritor: Henrique CorreiaHenrique Correia




Podemos dizer que Rui Fontes trouxe o debate ao Marítimo? E que esse debate foi, ele proprio, demasiado para aquilo que estávamos habituados e criou uma espécie de várias "ilhas" dentro do clube, diferente por comparação com a "ilha" única de Carlos Pereira?




A Madeira tem caraterísticas muito próprias. Em tudo. Na política, no mundo empresarial, na comunicação social, nas instituições, quer públicas, quer privadas, desportivas, sociais, culturais, em tudo mesmo. Até nas associações de estudantes e nas agremiações de bairro, nas organizações eventuais também. Não é bom nem mau, é assim há anos e pronto.

E essas caraterísticas assentam, todas, num clima de proximidades, de cumplicidades, não necessariamente negativas, mas que acabaram por criar raízes de décadas em que, no fundo, num meio pequeno, os mesmos possam "passear" pelos cargos de liderança com o propósito da capacidade de influência que inevitavelmente vai bater à sobrevivência financeira dessas instituições. Tudo tem a ver, não sei se se lembram, com um conceito, também muito madeirense, de escolher um bom padrinho para os batismos e crismas, sobretudo estes sacramentos.

Como disse, e bem, o empresário Luís Miguel Sousa, que construiu e bem o forte grupo Sousa, este é um meio pequeno onde todos se conhecem. E é verdade, cruzam-se quase todos os dias nas inaugurações, nos cocktails, nas iniciativas onde é importante aparecer. Depois de feita a "cama", nada que meia dúzia de telefonemas não resolva qualquer problema. É normal nuna esfera de influência como esta.

O que está a acontecer ao Marítimo tem a ver um pouco, ou até muito, com esta nota introdutória. Parece até que o clube e a SAD se desmoronaram, de repente, quando foi aberto o debate e feita alguma descentralização, e talvez por isso o próprio Rui Fontes, que até é um conhecedor profundo das caraterísticas e especificidades do "dirigismo" político, empresarial e desportivo da Região, ele próprio até foi do género daqueles protagonistas que tanto andam pela CP como pela TAP, ao ter sido secretário regional e depois administrador do Jornal da Madeira, além de empresário, até ele, dizia, falhou nesta forma de liderança descentralizada, de debate. No fundo, demarcar-se de Carlos Pereira, o anterior presidente do Marítimo. Demarcar-se da imagem de marca do dirigismo desportivo da Madeira, tem custos. E Rui Fontes sentiu isso mesmo, além de um certo deslumbramento pela forma concludente como o poder do clube e da SAD lhe chegou a mão.

Aquilo a que chama crise de crescimento, no Marítimo foi uma crise de democracia, podemos assim dizer do ponto de vista democrático. Passar de uma gestão de um homem só, que tinha carta branca para gerir como bem lhe apetecesse (que fez obra, honra lhe seja feita, mesmo à custa de sacrificar o futebol), para uma nova realidade de gestão, com responsáveis do futebol e com a tentação que Fontes inevitavelmente iria ter, como teve, de interferir quando lhe apetecesse vindo ao de cima uma certa "verdura", não de idade, mas de ausência destas andanças nos tempos recentes.

Podemos dizer que Rui Fontes trouxe o debate ao Marítimo? E que esse debate foi, ele proprio, demasiado para aquilo que estávamos habituados e criou uma espécie de várias "ilhas" dentro do clube, diferente por comparação com a "ilha" única de Carlos Pereira? Podemos dizer que foi o excesso de debate que trouxe este descalabro de instabilidade ao Marítimo? Talvez sim, com a devida salvaguarda do espírito democrático onde o debate nunca é demasiado e deveria sr ponto de honra nas instituições. Só que na prática, estamos pouco preparados para um debate aberto e leal que não seja entendido, sempre, como estando a favor ou contra. Mais ou menos aquela ideia que tem caraterizado a vida na Região: se não és a favor és contra. Dá jeito ser assim, mas não é assim que deve ser.

O Marítimo passa, assim, a uma outra fase, com nova liderança a sair das próximas eleições. O problema é mudar mentalidades, ter no futebol o seu ponto forte, primeiro, para que o resto funcione. E ter o futebol forte é adaptar-se ao mundo do futebol forte, do investimentos externo, do empresário que aposta no futebol e em ganhar dinheiro, que não está para ter abertura a estes diferendos de "capela". Ou o Marítimo cresce por dentro, com apoios privados para completar os públicos, tem uma liderança forte que seja capaz de tomar decisões e fale a uma só voz, ainda que com espírito democrático, ou então não é tão cedo que vemos o Marítimo de regresso à I Liga. É uma questão de cultura desportiva e de relacionamento institucional com os parceiros oficiais, onde a lealdade não pode ser confundida com a cumplicidade.

Quanto aos sócios, que têm todo o direito de decidir a vida do clube, devem no entanto ter presente o seguinte: não querem investidores? Têm disponibilidade para garantir esse grande investimento? O clube pode sobreviver com os sócios, mesmo que sendo os mais prrsentes da II Liga? Se não podem garantir nada disto, então é preciso eleger uma equipa e dar-lhe estabilidade. Se um dia destes não quiserem dizer "volta Carlos Pereira, estás perdoado..."

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