Miguel Gouveia sai de cena política: nem Câmara nem PS-M
- Henrique Correia
- há 10 horas
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"O PS não soube interpretar essa vontade (mudança) e apresentar uma candidatura que fosse, aos olhos dos Madeirenses, credível e que tivesse essa capacidade de ser um novo governo, mas que desse garantias de estabilidade"

Nem candidato à Câmara do Funchal nem candidato à liderança do PS-Madeira no processo de sucessão de Cafôfo que será aberto após as eleições autárquicas deste ano de 2025. Miguel Silva Gouveia prepara-se para uma pausa política de doze anos e já o disse ao atual líder socialista madeirense Paulo Cafôfo quando este o convidou para ser candidato autárquico. A indisponibilidade tem a ver, sobretudo, com aspectos que se prendem com a inexistência de identificação com a atual liderança, que não prosseguiu com a onda agregadora de 2019 e, mais do que isso, afastou quadros válidos. Mas também pessou a opção pessoal.
Em entrevista ao jornal Económico, Miguel Gouveia revelou ter falado com Cafôfo, admite que a candidatura ao Funchal esteve em cima da mesa, que foi ponderada com a atual equipa da vereação da Confiança, mas a resposta foi não: "Depois de termos votado quer o Orçamento Municipal para 2025, quer as contas de 2024, que aconteceu no final do mês de abril, nessa altura, tive a oportunidade de transmitir [a Cafôfo] o que tinha pensado. Fiz a análise, reflexão e ponderação que precisava de fazer, falado com a minha equipa, e [comuniquei] que não teria disponibilidade para, neste momento, encabeçar uma lista do PS à Câmara Municipal do Funchal, por um conjunto de fatores que tive oportunidade de lhe explicar na altura e que depois tive a oportunidade de tornar isso público a 25 de abril.
E acho que acabei por tomar uma decisão que foi bastante equilibrada e coerente com aquilo que sempre transmiti, e que nunca escondi também publicamente, que seria algum distanciamento que eu tenho neste momento com a atual liderança do PS Madeira [de Paulo Cafôfo]".
O vereador da Confiança e antigo presidente da Câmara acrescenta que "aquilo que eu referi era que faria um interregno depois de terminar este mandato [autárquico no Funchal]. Farei um interregno na minha participação política para procurar outras dimensões de desenvolvimento pessoal e profissional. Quem se dedica a cargos públicos e de serviço público tem forçosamente, por imposição legal, de fazer uma pausa na sua carreira profissional. Um vereador, um presidente de Câmara não pode acumular funções com outra vida profissional. Portanto, tem que fazer essa pausa. Eu fiz na minha vida essa pausa. Regressei e como muitos colegas autarcas também fizeram essa pausa e regressaram [ao seu trabalho], uns com maior dificuldade, outros com menor dificuldade. É sempre um momento e uma experiência traumática estar a voltar a uma carreira profissional depois de alguns anos de colocar em suspenso essa carreira.
É isso que eu pretendo fazer. Quero investir na minha carreira profissional e noutras dimensões da minha participação, e na minha vida pessoal, provavelmente com alguma dedicação académica, procurando aprofundar os meus estudos".
Miguel Gouveia diz que o PS-M "não soube ler a realidade madeirense. Não soube perceber que neste momento os madeirenses precisam, pedem, e querem uma alternativa ao PSD. Nunca houve tanta vontade de se virar aqui uma página e de se cumprir abril na Madeira, de se cumprir a alternância democrática, que é uma pedra basilar das democracias. Uma democracia com um partido único, com um único partido a governar há 50 anos, não tem referências. É uma democracia que se esgota em si mesma. É quase como uma autocracia, é sempre o mesmo partido a governar. Eu sinto que os madeirenses têm essa vontade de mudar.
O PS não soube interpretar essa vontade e apresentar uma candidatura que fosse, aos olhos dos Madeirenses, credível e que tivesse essa capacidade de ser um novo governo, mas que desse garantias aos Madeirenses que iríamos ter uma estabilidade com esse novo governo.
Se calhar por se estar a repetir um conjunto de pessoas que estão há muitos anos acantonadas nos grupos parlamentares do PS Madeira. Por fugir um pouco ao debate de ideias e a uma campanha eleitoral propositiva onde as propostas tivessem o seu maior relevo. Acabaram por pessoalizar demasiado a campanha, individualizar, colocar demasiada ênfase na questão da justiça, na judicialização da política que assistimos um pouco no país inteiro".
Miguel Gouveia sublinha que nunca se identificou
"com a tentativa de aproveitamento de casos judiciais. Na altura em que aconteceu a situação aqui na Câmara do Funchal, em 2024, com o antigo presidente [Pedro Calado que foi constituído arguido levando à sua saída da presidência da autarquia], tive a oportunidade de dizer que é preciso deixar que a justiça faça o seu trabalho, de não se pedir demissões extemporâneas, e de não se fazer julgamentos na praça pública.
O PS Madeira e as suas lideranças tiveram uma opinião contrária. Esta foi uma das situações que eu não subscrevi na altura. E depois [houve] um conjunto de posições públicas do PS, com alguns cartazes, que eu considero que não devem ser, do ponto de vista da credibilidade, não devem estar dentro do escopo da ação do PS Madeira".
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