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  • Foto do escritorHenrique Correia

Política no risco e sem ética



Mas como é que se garante a governação com ética se a falta de ética é um modo quase generalizado de governação?



Imagem DR.


Quando Francisco Sá Carneiro disse que "a Política sem risco é uma chatice e sem ética uma vergonha", uma frase batida a torto e a direito porque fica sempre bem, normalmente por políticos que andam no risco sem ética, mal sabia que essa sua frase célebre ia ser muito falada pelo politicamente correto, mas muito pouco praticada pelo politicamente desgarrado.

Sá Carneiro foi, como se sabe, o líder histórico do PPD que morreu no acidente aéreo em Camarate, a 7 de dezembro de 1980, ainda hoje por explicar. Esteve pouco tempo no poder mas o suficiente para que todos os líderes do partido e a generalidade dos políticos o considerassem de forma muito especial, ainda hoje é assim. Muitas vezes lembrado em vão,l por gente que anda no risco e não tem ética, gente que faz política diária eticamente reprovável, mas legalmente sustentada pelos expedientes oferecidos pelo Direito de fazer as coisas "direitas" num determinado conceito do que é o "direito", fazendo-o por "linhas tortas". Fazer o que não é ético, o que é imoral, mas fazer na mesma com carimbo das instituições. Para quem conhece as máquinas governatvas minimanente, sabe que é assim. E quem sabe fazer bem, é uma vergonha legalmente aceite pelos crivos que o risco permite.

O que se passou no Governo da República, que levou àdemissão de António Costa, independentemente do que judicialmente venha a ser apurado, é o que acontece quando aquilo a que Sá Carneiro chamou de risco entronca na vergonha das atitudes pela falta de ética dos protagonistas, normalmente em contextos de poder absoluto e onde a "cegueira" da impunidade leva a julgar possíveis comportamentos e atos de falta de ética ou de ética discutível num universo que funciona um pouco como o "paraíso" onde tudo se resolve, tudo é negociável e nada é escrutinado porque as influências dominam a governação.

Todas as escutas que já são do conhecimento público são reprováveis porque são públicas. São reprováveis de qualquer maneira, mas é assim que as coisas se passam por muito que queiramos estranhar e fingir que não vemos o que realmente representa a governação no geral, com algumas nuances quando analisamos no particular desta ou de outra governação. Ou acham que são raros telefonemas daqueles, com contornos de exercício de influência, tendo em vista investimentos, obras e apoios, para chegar o mais perto dos poderes? Ou acham que não há movimentações de segundas e terceiras linhas, visando chegar ao topo e até usar os nomes do topo para se dizerem importantes, é assim pouco frequente no dia a dia dos governos? Pensam que os empresários não ligam para os seus contactos no sentido de acertarem estratégias, ou porque as fases de um concurso não oferecem garantias e é preciso alterar, ou um investimento em grande esbarra num qualquer Plano de Pormenor ou de Urbanização ou até Plano Municipal? Ou acham que a política não se exerce num "convívio" diário de cumplicidades e de dialética ajustada para o "ajudei, ajudem-me"?

Sejamos honestos. Nem todos estes comportamentos, que se passam todos os dias nos governos nacionais, regionais e locais, resultam em ilegalidades passíveis de investigação e prova judicial. Provar o nível da influência é muito difícil e nem todos têm este conceito de impunidade do ex- chefe de gabinete de António Costa para achar normal ter 78 mil euros em envelopes num gabinete de governo. É de uma falta de noção e de uma prova sobre até onde pode ir a noção de excesso de poder. Mas é assim que o excesso de poder se comparta, a diferença é que na maior parte das vezes a falta de ética é legalizada com meios e documentos. E isto porque os governantes já perceberam que os eleitores não penalizam a falta de ética, acham até uma "esperteza". O crivo do povo é fraco e os políticos sabem disso e desde que só seja pouco ético mandam avançar na mesma. Salvo a gente séria, que felizmente ainda há, a diferença está, depois, nos que sabem como fazer as coisas e os que "metem o pé na poça".

A grande questão é saber como é que se altera o exercício do poder, havendo a consciência que ao longo dos anos vem decaindo a qualidade dos protagonistas, com o consequente crescimento da proliferação do clientelismo que premeia as "negociações obscuras", mas nem sempre ilegais, em detrimento da qualidade pura e dura.

Mas como é que um eleitorado sem reação e sem voz pode ter voz nisto? Votar, vai votar, a Democracia diz isso. Mas como é que se garante a governação com ética se a falta de ética é um modo quase generalizado de governação?

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