PSD vencedor; JPP e CHEGA em "alta"; PS "afunda-se" com erros
- Henrique Correia
- há 10 horas
- 4 min de leitura
O que não dava estabilidade era Cafôfo ficar. E deve-se a este erro de cálculo o facto dos eleitores irem procurar alternativa em soluções diferentes que não passaram pelo PS.

O PSD é o vencedor claro das eleições autárquicas na Madeira. Ganhou seis das onze câmaras e vai liderar a Associação de Municípios. Já teve as onze, já, mas depois de tantos anos de Poder, é obra que tem de ser registada mesmo com todas as especificidades e contornos muito próprios da política madeirense.
O PSD perdeu São Vicente, um pouco pela conhecida teimosia de Albuquerque, que às vezes ouve-se mais a si próprio do que aos outros e escolhe por influências de grupo e não por sensibilidades da população. Mas
ganhou na Ponta do Sol. Subiu onde ganhou, exemplo de Câmara de Lobos, até subiu onde perdeu, caso de Santa Cruz. Os números são claros, a população quis assim, assim teve.
Esta prestação do PSD é surpreendente por não sofrer o desgaste de quem está praticamente há meio século a ganhar eleições. Com um dado que já tem antecedentes: os eleitores não querem saber se há ou não arguidos, se há ou não processos, se há ou não envolvimento em casos judiciais. Aconteceu com Miguel Albuquerque e com quase metade do Governo anterior, aconteceu agora com Rui Marques na Ponta do Sol. Parece que quanto mais casos, mais votos, beneficiando dos tempos desempregados da Justiça, que parece "correr" mais em épocas de eleições sem grande objetividade e efetivamente Justiça. O povo, já se viu, não gosta de ver isso. A Justiça, sendo "cega", não vê mesmo nada.
Portanto, o PSD venceu e Jorge Carvalho conquistou a maioria absoluta no Funchal sem grandes problemas, sem ter de fazer muito por isso. Trazia um capital do Governo e foi suficiente o apoio da máquina do partido.
Mas mesmo assim, há outros registos que não podem passar ao lado deste ato eleitoral. O JPP continua como segunda força mais votada e a trabalhar para o futuro. Ganhou Santa Cruz num contexto de divisão interna sobre o candidato, com Élia Ascensão a demonstrar que foi a escolha acertada, venceu as juntas do concelho, consegue pela primeira vez eleger vereadores no Funchal, bem como noutros concelhos, como em Câmara de Lobos e Calheta. Consegue reunir um resultado que acaba por corresponder ao seu trabalho com diferença, com fiscalização, com escrutínio e com um crescimento sustentado, a criar quadros que hoje não se circunscreve ao grupo que esteve na génese do então movimento, hoje partido.
Outro partido que está a consolidar a surpresa é o CHEGA, assumindo-se como terceira força mais votada e conseguindo, inesperadamente, vencer a Câmara de São Vicente e as respetivas juntas de freguesia do concelho. E além disso, dois vereadores no Funchal, o que resulta de uma reação natural do eleitorado que se revê no discurso do líder nacional André Ventura, mas uma escolha que nada tem a ver com xenofobia ou extrema direita, os eleitores madeirenses do CHEGA não são de extrema direita, mas tem a ver, isso sim, com a falta de resposta de quem governa, a assuntos que preocupam as pessoas, e a falta de alternativa no tradicional partido alternativa, o PS. Parece que está difícil do PSD e do PS perceberem isto, de entenderem esta parte do eleitorado. E se continuarem a não perceber, vão continuar a ver fugir o eleitorado.
Finalmente, no fim mas na primeira linha da análise depois dos vitoriosos da noite, está o grande derrotado, o Partido Socialista liderado por Paulo Cafôfo. Um enorme erro estratégico com um enorme estrondo da derrota apesar de ter conseguido manter as Câmaras de Porto Moniz e Machico, muito por responsabilidade das estruturas locais.
Cafôfo cometeu um lapso de análise que impediu o PS-M de se apresentar renovado já para estas eleições, sabendo-se que uma alteração de liderança, agora, só será problemática para quem vem a seguir, que tirando as presidenciais, só terá eleições a sério muito lá para a frente, além de trabalhar com as escolhas que entretanto Cafôfo foi fazendo, escolhas de um líder a prazo e sem motivação de vitória. Não saiu quando havia pressa para mudar e agora tem pressa para mudar numa fase sem pressa. É estranho.
Paulo Cafôfo e o PS são outros casos de estudo. Como no fundo é a política madeirense. Cafôfo foi do topo ao fundo em seis anos. E o PS, que só esteve perto do topo com Cafôfo, afunda-se com o mesmo Cafôfo e com a mesma facilidade.
Certamente que Cafôfo tem explicações internas para o seu sucesso, deixou essa ideia, sem concretizar, na noite eleitoral. Mas muita responsabilidade fica a dever-se a um conjunto de escolhas que terminaram com este erro de avaliação sobre as consequências de se manter na liderança até agora. Não percebeu que o resultado seria muito melhor mesmo que houvesse debate interno para a sucessão. Era difícil o partido ficar mais distante do eleitorado do que já estava. O que não dava estabilidade era Cafôfo ficar. E deve-se a este erro de cálculo o facto dos eleitores irem procurar alternativa em outras soluções e não no PS. Neste momento, o PS-M não é de confiança, nem de futuro. Ninguém vota num partido que não mostra liderança, segurança de convicções e futuro. O resultado só poderia ser o que foi.
Comentários